IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

O embaixador, no entanto, do meu julgamento, muito fez para predispor os militares e brasileiros
em geral contra os americanos do norte. Seria de pasmar que um relatório, elaborado sobre
informações - capciosas e injustas - prestadas ao Departamento de Estado por um homem de
mentalidade interferente e prepotente, pudesse traduzir algo de sério e imparcial.


Numa situação delicada e sob certos aspectos até confusa, porquanto oficiais que serviram
naquela época em Washington deixaram escapar informações de que o relatório estava sendo feito
em sentido favorável ao Brasil, vem à tona dos acontecimentos o problema do Acordo Nuclear
Brasil-Alemanha.


As pressões norte-americanas para impedi-lo e os esforços, de mesmas origens, empreendidos
para forçar-nos a assinar o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP) predispunham o
governo brasileiro, com muita razão, a reações contra os Estados Unidos.


O general Hugo Abreu, em seu livro, já abordou a questão do Acordo Nuclear com apreciável
profundidade, contudo, por não ter focalizado alguns ângulos da interferência norte-americana nos
assuntos dessa importante área, tomo a iniciativa de fazê-lo para mostrar a obsessão ianque do
controle nuclear.


Não é de hoje a preocupação dos Estados Unidos de monopolizarem a energia atômica; desde o
lançamento da bomba sobre Hiroxima, em 6 de agosto de 1945, o demonstraram claramente. Se
falharam neste propósito, não foi por culpa própria. O que nos interessa, entretanto, são os aspectos
brasileiros da questão.


Os tratados, trocando monazita por trigo, a chantagem da Guerra da Coréia, a apreensão pelos
ingleses do material das ultracentrífugas destinadas pelos alemães ao Brasil, no início da década de
1950, e o infeliz Acordo de 1955 permitindo, praticamente, o controle dos minerais brasileiros pelos
Estados Unidos são acontecimentos lamentáveis e expressivos, bem conhecidos dos estudiosos do
assunto nuclear. Particularmente guardo, deste último Acordo - de 1955 - a tristeza de ter lido,
quando servi, em 1956, no EMFA, uma proposta norte-americana de minuta muito pouco honrosa
para uma Nação que se julga independente, como o Brasil.


Em 1977, persistiam os Estados Unidos nesta idéia, na continuidade de uma política dominadora
das atividades relacionadas com a exploração do átomo.


Incidiam conseqüentemente, naquele ano, duas fortes pressões sobre o governo brasileiro:
Direitos Humanos e o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha.


Esta era a conjuntura, agravada, assim o julgo, pela tendência esquerdista do Governo Geisel.

Em início de março, dentro da primeira dezena do mês, o presidente Geisel convocou os
ministros militares para uma reunião, à noite, no palácio da Alvorada. Presentes ao encontro estavam
ainda os chefes da Casa Militar e do SNI e, também, se não me engano, o Chefe do Estado-Maior das

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