IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

existentes.


O general Geisel repetiu, então, as mesmas restrições, já feitas anteriormente, e declarou que
estava decidido a não promovê-lo, bem como aos outros dois generais - um de divisão e um de
brigada - porque não possuíam condições para o posto superior. Acentuou, no momento, a sua tese de
que o general não deveria ser promovido pelo que fizera, mas sim pelo que poderia fazer, pois a
promoção não representava um prêmio. Era um argumento válido desde que circunscrito à esfera
militar e não se evadisse desta para a política ou a sentimental. Julgava-se, assim, o militar
unicamente sob o seu mérito profissional, despido de qualquer veleidade ou importância
extracastrense. Constituía a aplicação do princípio de que cada indivíduo tem o seu nível de
capacidade, acima do qual é inoperante e, até, ruinoso. Acreditava, naquela época, na sinceridade do
general Geisel, não podendo admitir que uma opinião tão corretamente fundamentada escondesse
outros propósitos, como, mais tarde, diferentes fatos vieram revelar.


Embora a resolução do presidente estivesse tomada, reportei-me às minhas considerações da
promoção de março, sem o menor êxito; sua decisão era inabalável.


Solicitei-lhe autorização para comunicar aos generais visados seu propósito de não promovê-
los, não somente porque constituiria um golpe profundo em suas aspirações como, também, pela
consideração que deveria dispensar aos meus colegas, evitando-lhes essa desagradável surpresa.


Concordou o presidente que eu participasse aos generais a sua decisão.

Regressando ao Quartel-General do Exército mandei chamar o general-deexército Fernando
Belfort Bethlem - Chefe do Departamento do Pessoal - e informei-o da intenção do presidente de não
promover dois generais, um de divisão e outro de brigada, que serviam às suas ordens. Determinei
ao general Bethlem que participasse a esses generais a resolução presidencial. Não fiz qualquer
comentário sobre o assunto; foi uma ordem simples e seca.


Retirando-se o general Bethlem, convoquei ao meu gabinete o general-deexército Ariel Pacca da
Fonseca - Chefe do Departamento de Ensino e Pesquisa -, a quem o general Adauto era subordinado,
colocando-o a par da situação.


Os generais Ariel e Adauto eram amigos, colegas de turma e pertenciam à mesma Arma - a
Artilharia. Senti, por tudo isso, a delicadeza da comunicação e a reação que provocaria num homem
sincero e franco como reconhecidamente é o general Ariel.


Ao tomar conhecimento dos fatos, o general Ariel, mostrando-se surpreendido, disse-me que, não
obstante a opinião do presidente, ele votaria no general Adauto.


Respondi-lhe que não estava pedindo que ele não votasse no general Adauto, nem o presidente
pedira isto. Cada general deveria votar de acordo com a sua consciência. Fazia-lhe apenas uma
comunicação que deveria ser transmitida ao general Adauto.

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