Estas palestras telefônicas, ocorridas no dia 5 de outubro, mostram que, em matéria de sucessão,
somente a candidatura Figueiredo era realidade. O restante não passava de especulações, algumas
transbordantes de má-fé, assentadas invariavelmente sobre alicerces moralmente fracos. Quem estava
na área do poder teimava em ficar. Quem não gozava deste privilégio, lutava para ocupá-la.
Nestas disputas, os meios empregados por facções oponentes são de infinita variedade e
desdobram-se, no campo das acomodações, desde a simples adesão às complexas e inescrupulosas
conversões. O exemplário está no nosso panorama político - vazio de convicções e atulhado de
interesses pessoais.
O partido da situação despersonalizava-se na irrestrita obediência, enquanto o da oposição, não
a fazendo num sentido construtivo, enveredava pela linha negativista da reação e da contestação,
correndo o risco de radicalizar-se. Em suas raízes, no entanto, ambos agitavam-se e atuavam mais em
defesa de interesses regionais - que lhes assegurassem e aumentassem o prestígio junto aos seus
eleitores - do que em prol das grandes causas e realizações nacionais.
Os políticos - com raras e dignas exceções, porquanto temos em seus quadros homens de real
valor- penduleiam entre posições de interesse pessoal, não hesitando em trocá-las desde que, sob
este aspecto, venham a usufruir lucros. Entendem-se sempre e têm métodos específicos para isso.
CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS
A análise deste punhado de fatos - poderiam ser dezenas, pois o manancial permitiria - bem
significativos, apresentados neste capítulo, autoriza-nos a realçar algumas ilações que já se
esboçavam na narrativa:
O general João Figueiredo estava escolhido, pelo presidente Geisel, para seu sucessor, se não
desde o seu escritório no Largo da Misericórdia, pelo menos a partir do início de seu governo. As
atitudes tomadas pelo presidente e seus assessores de simular indiferença sobre o assunto, abstendo-
se de abordá-lo e exigindo que ninguém o ventilasse, faziam parte de um plano para evitar
especulações sobre nomes de outros possíveis candidatos ao cobiçado cargo.
A minha suposta candidatura foi uma manobra muito bem engendrada pelo grupelho do
Planalto. Criava a incompatibilidade entre o presidente e o ministro; justificava uma vigilância mais
rigorosa do SNI e de seus alcagüetes militares sobre o general Frota; revelaria os simpatizantes do
ministro a tempo de neutralizá-los; explicaria, por parte dos administradores do general Figueiredo,
uma propaganda mais aberta de seu candidato, conjugada certamente com uma campanha de
difamação à pessoa do ministro e, finalmente, o que era mais importante, serviria para dar a qualquer
atitude, tomada pelo ministro, de rejeição ao candidato do Planalto, o caráter de interesse pessoal,
desvirtuando-a. Havia ainda a possibilidade de o ministro desmenti-la, publicamente, agrilhoando-se
a mais um compromisso com a Nação e fortalecendo, deste modo, a candidatura oficial, que
continuaria solertemente sem empecilhos. Esta solução era de agrado do palácio e o general Hugo