IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1
-Li ...

Aguardei que o presidente dissesse algo a respeito, pois além de general era o comandante
supremo das Forças Armadas - entre as quais, logicamente, estava o Exército -, título que alardeava
sempre que queria auferir vantagens. Entretanto, manteve-se em silêncio. Caxias era uma figura do
passado, não havia por que criar problemas com a imprensa. Assim deve ter pensado ele, um adepto
do pragmatismo responsável, nada infenso às esquerdas conforme, em certa ocasião, declarou-me.


Estávamos a 6 de setembro e o artigo ultrajante era do dia 1°; se tivesse pretendido tomar
algumas disposições preventivas ou mesmo repressivas já lhe sobrara tempo. Convém não esquecer
que os jornais eram lidos, ao clarear do dia, pelos elementos do SNI e, se os homens do governo
permitiram difundir a publicação, o fizeram por insensibilidade cívica ou pelo interesse incontido de
gerar problemas no Exército. Não creio que a desconhecessem, visto que o próprio presidente
declarou conhecê-la.


Vendo-o impassível prossegui:


  • Participo ao senhor que vou processar o jornalista, expedindo hoje um oficio ao ministro
    Armando Falcão.


Sem que obtivesse resposta, levantei-me e despedi-me.

Chegando ao meu quartel-general, remeti ao Ministro da Justiça o Aviso n° 87/3, de 6 de
setembro de 1977, solicitando fosse processado o jornalista Lourenço Diaféria, por estar, do meu
ponto de vista, incurso na Lei de Segurança Nacional.


À noite do dia 6, inaugurou-se com presença do Presidente da República o Clube do Exército,
como já mencionei anteriormente. Os oficiais comentavam com indignação o comportamento da
imprensa em geral e do jornalista paulista Diaféria, em particular, classificando-o de provocação
que merecia resposta imediata.


O general José Maria de Andrade Serpa transbordava de revolta e mencionava outros fatos de
agressão a militares, feitos pela imprensa. Precisávamos pôr um cobro nesta campanha, dizia ele.


Os rádios expedidos aos comandantes de área tiveram, portanto, o benéfico efeito de conter os
mais exaltados.


Contudo, eu reconhecia que o Ministério da justiça não tinha conseguido impulsionar os
processos anteriores que lhe enviara, os quais marchavam para a prescrição, fórmula usual de
impunidade, naqueles setor e nível.


Por outro lado, não notara no presidente grande interesse em responsabilizar o jornalista.
Obliterara as sensibilidades militares, se é que as teve realmente algum dia, em proveito de seu
prestígio político.

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