que me desse a conhecer o pensamento dos setores ligados à Presidência sobre o assunto. Entretanto,
na véspera da"Farsa , borbulharam no caldeirão de intrigas do palácio os boatos sobre a repulsa
presidencial ao relatório. Era uma medida de desinformação, que surtiu efeitos, como veremos mais
adiante.
Na tarde do dia 11 de outubro, chegaram-me algumas informações de que o presidente Geisel
estava aborrecidíssimo com o Relatório Especial de Informações expedido pelo Comandante do III
Exército do qual, somente naqueles dias, tomara conhecimento. Um oficial do Centro de Informações
e Segurança da Aeronáutica telefonou para o meu gabinete pedindo que enviasse àquele Centro um
oficial de minha inteira confiança. Dei a missão ao meu ajudante-de-ordens que, ao regressar, trouxe-
me informação idêntica às já recebidas.
Em síntese, dizia-se que o presidente vacilava entre três soluções:
- Prender e afastar o general Bethlem do Comando do III Exército;
- afastar o general do Comando do III Exército; ou
- mandar que eu prendesse o general Bethlem.
Nunca coloquei em dúvida que o grupo do Planalto fosse integrado por homens inteligentes,
porém sem escrúpulos. Venderiam até as almas, se o Diabo caísse na asneira de comprá-las. O
trabalho de diversão ou, para usar linguagem mais moderna, de desinformação que realizaram foi
perfeito.
Convencido de que iria defrontar-me com sérios problemas, decidi telefonar para o general
Bethlem, preveni-lo do que estava ocorrendo e tranqüilizá-lo sobre minha solidariedade dado que
aprovara o relatório e iria assumir as responsabilidades decorrentes.
Todavia, não se conhecia o paradeiro certo do general Bethlem, já em gozo de dispensa de
serviço. Recomendei, por conseguinte, fosse procurado com urgência seu endereço e retirei-me para
minha residência. Pouco depois recebi a visita de ilustre industrial, meu amigo, que regressaria ao
Rio de janeiro naquela noite. Conversávamos quando soube da estada de Bethlem no Rio e
imediatamente liguei-me com ele.
Travamos um diálogo, assistido pelo meu ajudante-de-ordens e, também, pelo meu amigo:
- Bethlem? É o Frota. Quero avisar-lhe que segundo informações insistentes o presidente leu e
não gostou do seu Relatório de Informações. - Que relatório, Frota?
- Ora, Bethlem... o único relatório que você fez...