A mentalidade, no entanto, na esfera política era muito diferente, pois mudavam de lado desde
que maiores benefícios pudessem auferir. E... ainda mudam.
O ex-Ministro da Agricultura - Bento Munhoz da Rocha - de modo excepcionalmente feliz
reconhece esse movimento pendular político, quando escreve:'
No jogo político é comum essa oscilação, em que os homens trocam de posição. E passam,
empurrados pelos acontecimentos, do grupo em que inicialmente se situaram, para o grupo que,
intransigentemente, combateram...
Faltam-lhe convicções. Era entre nós uma endemia, hoje transformada em epidemia.
Por outro lado, no quadro da política nacional, a famosa Frente Ampla - reunindo homens de
correntes de pensamento divergentes e até antagônicas, cada um deles procurando apoiar-se no
prestígio dos outros para alcançar o poder - comprova praticamente o acerto do julgamento que fez
Munhoz da Rocha sobre as flutuações dos políticos.
Café Filho, superando as agitações políticas partidárias que clamavam por imediatas reformas e
sugeriam sua permanência no governo para concretizá-las, consegue realizar as eleições
presidenciais, das quais emerge vencedora a chapa Juscelino Kubitschek-João Goulart, apoiada
pelos dois partidos de origem getulista - PSD e PTB.
Derrotava-se, assim, mais uma vez, o idealismo de 1922, já agora na pessoa do ínclito Juarez
Távora, candidato vencido como o fora no passado o inolvidável Eduardo Gomes. Ressurgia o
getulismo das próprias cinzas do 24 de agosto, à semelhança da mitológica ave egípcia. Restava-nos,
porém, a esperança de que não durasse séculos, imitando o pássaro fabuloso. Abriam-se novos
horizontes ao nepotismo e à corrupção, restaurando-se o prestígio dos homens do "mar de lama".
As reações fatalmente viriam. Começaram com as contestações à legitimidade de um mandato
que não se alicerçava na maioria absoluta e terminaram na novembrada de 1955.
Nas exéquias do general Canrobet Pereira da Costa, no início desse mês, à beira de seu túmulo,
proferiu o coronel Jurandyr Bizarria Mamede vibrante oração fúnebre em que, a par das
manifestações de pesar e tristeza pelo desaparecimento do chefe militar, tecia agressivas
considerações à situação política. O discurso, que teve repercussão nacional, foi amplamente
explorado pela imprensa.
O general Lott, consoante todas as informações que circulavam naquela ocasião e os fatos
posteriores confirmaram, fora envolvido pelos ardilosos políticos do PSD, que lhe prometeram, em
nome do futuro presidente, a permanência no cargo de Ministro da Guerra. Exasperou-se, portanto,
ao sentir ameaçada uma posição política que lhe convinha, por favorável aos seus interesses, e exigiu
a punição do coronel Mamede, considerando que suas palavras concitavam à subversão.