Forças Armadas, numa manifestação grotesca de populismo - infelizmente com alguns adeptos ainda
hoje -, maculando a austeridade numa Força cujos chefes primam por mantê-la, tradicionalmente, em
adamantina pureza.
Após a Revolução de 1964, expulso da Marinha e banido pelo Ato Institucional, não descansou
em suas investidas e conspirações contra o governo revolucionário.
Vagueava pelo norte da América do Sul, sendo assinalada sua presença várias vezes na
Venezuela e na República da Guiana, procurando conseguir bases pra operar com guerrilheiros no
território de Roraima.
Em 1976, informações colhidas pelos nossos agentes davam como provável a existência de
tropas na fronteira sudoeste da antiga colônia inglesa, atribuindo-lhes a nacionalidade cubana.
Esse conjunto de informações chegou a trazer certa preocupação ao nosso governo, mas a ação
imediata e eficaz do Itamaraty conseguiu a vinda ao Brasil do primeiro-ministro da Guiana. Depois
desta visita, voltou à normalidade aquela região fronteiriça.
Em fins de 1976 ou princípios de 1977, circulou a notícia de sua morte, na Venezuela, mas logo
foi desmentida. Era, por tudo isto, um homem que incomodava; no entanto, sua relativa
periculosidade não punha em risco a segurança nacional.
Quando abordei a questão dos telex sobre o ex-almirante Aragão, visava tãosomente a revidar as
insinuações vis de que fui alvo e repeli-las como caluniosas.
Não pretendia colocar em debate se a documentação fora falsificada ou era verdadeira, contudo
as exigências da argumentação deram este rumo à análise do problema.
Os órgãos do governo poderiam provar facilmente que os dois telex eram falsos ou clandestinos.
Quanto ao oficio, um simples exame grafológico verificaria a não autenticidade da assinatura do
Chefe do SNI. Todavia, se estas provas não foram apresentadas, foi porque ou não quiseram ou não
puderam fazê-lo.
Este comportamento - talvez explicável à luz dos segredos de Estado - fez nascer a suposição de
que os documentos eram autênticos.
Entretanto, em qualquer hipótese, fica comigo a irrespondível indagação: quem teria tido a
baixeza, a covardia moral de redigir ou compor um telex - emitindo-o, se real, ou divulgando-o, se
falso - usando para caracterizá-lo o número do telex do aparelho do meu gabinete, com o intuito
claro de insinuar minha cumplicidade num assassínio?