IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Exército, foi plenamente demonstrada no episódio das urnas do Correio Braziliense em que o seu
nome ficou entre os últimos.


A primeira entrevista concedida pelo novo candidato oficial à imprensa ocorreu, segundo narra
Hugo Abreu, nas baias do 1° Regimento de Cavalaria de Guardas. O ex-Chefe da Casa Militar a
define como grotesca, embora eu a ache mais pitoresca do que grotesca.


Este fato talvez tenha influído bastante para que o jornalista e escritor Leonildo Tabosa Pessoa
cognominasse, na página 23 do seu interessante livro A lágrima - romance em que trata
ficcionalmente a Revolução de 1964 -, o décimo sexto ano da "sua Revolução", como o Ano do
Cavalo, denominação que estendeu ao quinto período revolucionário, naturalmente, explicando-a sob
outro aspecto.


Começou o candidato à Presidência da República suas viagens de propaganda eleitoral e
catequização dos meios políticos e castrenses. Em todos os lugares era recebido com destaque pelos
comandos militares. Entretanto, em determinada área um comandante militar não o foi receber,
alegando não se tratar da visita de um general, mas de um político. Queria, no seu correto modo de
pensar, manter o Exército afastado das agitações políticas. Este comportamento nada tinha de hostil
ao candidato, não podendo, portanto, ser censurado.


O exemplo, todavia, poderia ter seguidores, e a fértil imaginação dos homens do Planalto,
especializados em artifícios políticos, encontrou de imediato uma solução. Modificar-se-ia o
cerimonial da República, introduzindo-se entre os primeiros dignitários ali mencionados o
Presidente Eleito, que passou, assim, a ter oficialmente prerrogativas especiais.


A promoção do general Figueiredo ao posto de general-de-exército tornara-se para o governo
uma obsessão. Já aludi às artimanhas empregadas para atingir este objetivo de colocar no mais alto
posto do Exército o candidato oficial, até a data das eleições presidenciais.


Pretendendo, provavelmente, facilitar as manifestação de caráter político por parte de militares
da reserva e reformados, entre os quais estava o candidato oficial, amoldou-se a disciplina às
conveniências da conjuntura política.


Um rápido retrospecto das modificações do Regulamento Disciplinar do Exército dará uma idéia
de como são manipuladas as leis no nosso país, visando a atender estritamente os interesses pessoais
em detrimento dos da coletividade.


Em julho de 1964 o governo Castelo Branco decreta que "os militares da reserva e os
reformados não estão sujeitos às disposições dos regulamentos disciplinares das Forças Armadas".
Transcorreram treze anos dessa medida até que o governo Geisel, em decreto de 19 de julho de
1977, que eu também assinei, aprovando o novo Regulamento Disciplinar do Exército, mudou a face
da questão ao doutrinar que "Estão sujeitos a este Regulamento os militares do Exército na ativa,
reserva remunerada e reformados".

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