IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Magalhães Pinto, então senador da República, homem que nos dias nebulosos de março, enquanto
balançavam as convicções revolucionárias em muitos "heróis", assim ungidos após a vitória, lançou
a proclamação - pedra fundamental - de apoio político à Revolução, que já contava, em Minas
Gerais, com a bravura e o idealismo do meu estimado amigo general Carlos Luiz Guedes.


As candidaturas de Euler e Magalhães Pinto concorreram para legitimar a do general Figueiredo,
espalhafatosamente mencionada pelo grupelho do Planalto como de livre e espontânea opção do
povo e dos congressistas, voluntariedade muito esquisita, pois foi deglutida com dificuldade pelos
políticos, no ambiente de inércia moral dominante no país.


Esta espontaneidade deve ter sido um dos mais extraordinários casos de premonição conhecidos,
visto que foi pressentido por um grupo de ladinos brasileiros num prédio do Largo da Misericórdia,
quatro anos antes de ocorrer. Verdadeiro presságio!


Duas candidaturas oposicionistas, ao tempo que fortaleciam o candidato oficial, diminuíam suas
próprias possibilidades. O general Euler, por circunstâncias diversas, não conseguiria romper as
muralhas do partido oficial, numa surtida audaciosa para seqüestrar indecisos e descontentes,
mantidos sob vigilância por temor às deserções. Faltava-lhe, acima de tudo, o respaldo político para
tão temerária incursão.


Todavia, o candidato mineiro - Magalhães Pinto - estava dentro da fortaleza, conhecia suas
fissuras e os processos de alargá-las. Além disto, em contraposição ao general Euler, possuía fortes
bases políticas, em particular no seu estado, capazes de assegurar, em caso de fracasso, a
sobrevivência dos que aderissem à sua causa.


Se o partido da oposição o tivesse apoiado, dificilmente - sem modificações "casuísticas" das
regras fixadas - perderia a eleição.


Entretanto, a nossa política continua sendo uma política de arraial, de interesses vinculados aos
municípios e áreas estaduais, mais de caráter regional e individual do que de cunho nacional. Há
entre os nossos políticos, ainda, homens de mentalidade provinciana, dignos e bem-intencionados,
porém mais preocupados com o prestígio de seus clãs, conseqüentemente alienados dos cruciais
problemas nacionais e de suas soluções.


A eleição de elemento de um partido para função política de destaque em área estadual é
considerada fraqueza inexplicável, verdadeira aberração, pelo partido oponente, cujas regalias e
prestígio sofrem o perigo de minguar, no tempo, em progressão geométrica. Não se trata de saber se
o eleito é homem de valor, capaz de realizar administração profícua em beneficio da população,
porquanto o que na realidade está em jogo é o interesse individual, a importância do clã, as
mordomias. Contudo, o que exaspera é ver o governo adotar processos semelhantes no âmbito
federal, instigando pelo exemplo e por medidas protecionistas os que são "seus"; causticando as
administrações de seus adversários com medidas repressivas.

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