Em minhas considerações sobre os acontecimentos que vivi, gosto de colher na História, sempre
que possível, fatos semelhantes a fim de, por associação mental, estabelecer paralelos que permitam
melhor estigmatizar aqueles que abraçaram a ignomínia e exaltar os que, fiéis à honra, não se
aviltaram.
Conta Salvador Borrego, em seu excelente livro Infiltración mundial, que os generais Miller e
Skoblin pertenciam, em 1915, à plêiade de generais russos nacionalistas que combateram, de armas
na mão, o comunismo em sua pátria. Implantado o marxismo na Rússia, emigraram para a França e
foram residir em Paris.
Permaneceram amigos por muitos anos. O general Miller, entretanto, desenvolvia grande
atividade no seio dos exilados anticomunistas, mantendo acesa a chama nacionalista. Conspirava e
procurava aliados; era uma pedra no sapato moscovita. Certo dia - 27 de setembro de 1937 -,
Skoblin, que se vendera aos marxistas, convidou seu amigo para uma reunião com alemães hitleristas
que lhes ofereciam apoio. Confiante, seguiu o amigo de tantos anos, foi entregue a agentes russos,
narcotizado, enfiado numa caixa e levado ao porto de Havre. Um cargueiro soviético zarpou rápido,
conduzindo-o para a Rússia. Nunca mais se soube do valoroso general Miller.
Indaga o autor do livro: Quem poderia desconfiar que Skoblin, antigo membro das forças
nacionalistas russas, fosse um infiltrado?
Pergunto eu: Como poderia Miller desconfiar de Skoblin, seu velho amigo e companheiro de
lutas e ideais?
Após o dia 12 de outubro, só revi Hugo Abreu em julho de 1978. Acompanhei contudo a sua
desesperada trajetória em busca de uma solução que evitasse o que ele considerava uma
irremediável desgraça: a eleição do general Figueiredo. Seus emissários procuraram-me por algumas
vezes, tentando assentar um encontro em que debatêssemos os problemas da sucessão. A resposta foi
a mesma, que constantemente dava:
- Quem quiser falar-me venha a minha casa. Porém, sou obrigado a avisar que, aqui, não entrará
nenhum daqueles generais do Alto Comando de outubro de 1977, nem qualquer dos comparsas do
complot Geisel. Tenho o direito e o dever de preservar meu lar das impurezas morais. Abro exceção
para o Ariel Pacca, de comportamento inatacável, para o Fritz, com quem não quero ser injusto, não
obstante os oficiais acharem inexplicável sua longa demora em retornar do Nordeste a Brasília, onde
só chegou à noite, acontecimentos encerrados, tendo sido informado da situação pela manhã e,
finalmente, para o Hugo Abreu, a fim de explicar seu vergonhoso comportamento comigo.
Em 9 de julho de 1978, o general Adyr Fiuza de Castro compareceu, às dez horas da noite, à
residência, no Rio, do general Hugo Abreu, a convite deste.
Parece-me que a intenção de Hugo Abreu nesse encontro era debuxar o panorama político
nacional, visando ao meu conhecimento por intermédio de Fiuza.