decisão do general Geisel?
- Sim, o presidente avisara-o no dia 10, segunda-feira, quando esteve no Rio de janeiro.
- É verdade Hugo, que o Dilermando telefonou-lhe, comunicando a minha ordem de reunião do
Alto Comando e pedindo instruções de como agir? - Sim, telefonou-me; em virtude desse telefonema mandamos buscar os generais... O Heitor
Aquino ficou encarregado da imprensa; tudo que saiu por esse setor partiu dele... - Ouvi dizer que o general Arnizaut fora informado de véspera. Tem fundamento esta versão?
- O general Arnizaut sabia de véspera e teve conhecimento do deslocamento do Batalhão de
Cristalina e outras medidas. Eu tinha certeza que a guarnição de Brasília lhe era dedicada e
precisava tomar providências para o caso de uma reação. Cheguei mesmo a dizer ao presidente, dias
depois da exoneração, que o senhor não tinha tomado o palácio porque não quisera. - É de seu conhecimento que o Bethlem, um mês e meio após a minha exoneração, mandou retirar
toda a segurança, inclusive o oficial que estava à minha disposição? - O senhor está fazendo uma injustiça ao Bethlem. Quem determinou pessoalmente que retirassem
todo e qualquer apoio que lhe tivesse sido concedido foi o próprio presidente Geisel...
O general Hugo calou-se; estávamos sozinhos na quietude da noite. Fazia calor, embora
estivéssemos em julho. Sentia que Hugo emocionara-se com a entrevista; afinal, fôramos amigos, ele
me traíra e transformara-se no executor implacável das medidas para derrubar-me.
Olhava-o em silêncio. Ele, fixando à frente, nada dizia, como a procurar o que dizer. Sua fronte
porejava. Compreendi que, na revisão do passado, debatia-se no tribunal de sua consciência.
Abandonara o homem que ali estava ao seu lado para amoldar-se à hipocrisia de um grupo de
aventureiros ambiciosos que, após usá-lo, repelira-o como detrito.
De repente prosseguiu:
- No dia 2 de janeiro, ministro, uma segunda-feira, achei que poderia tratar com o presidente da
questão sucessória. Enviei-lhe um estudo com o caráter de assessoramento, para que examinasse o
problema. Estávamos em 1978 e cessara a proibição de abordar esse assunto. Mandou chamar-me no
dia seguinte, conversamos muito e disse-me finalmente que já convidara o Figueiredo para substituí-
lo... Fiquei indignado com a notícia... Esconderam-me a verdade... Eu não merecia confiança...
ridicularizaram-me... Demiti-me. O presidente tentou protelar, com uma promessa de promoção,
pedindo-me que aguardasse até março, recusei... - E por que você, Hugo, que sempre teve um pensamento revolucionário dos mais puros, foi unir-
se ao grupo político em que predominavam os contrarevolucionários e cuja tendência é francamente