IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Após a farsa de 12 de outubro de 1977, pelos boletins de que, acidentalmente, tomei
conhecimento, e nas restrições neles notadas em relação aos campos políticos e econômicos, os
órgãos de informações já se haviam amoldado ao critério presidencial.


SOBRE MINHA LEALDADE AO PRESIDENTE E À REVOLUÇÃO


Treze anos depois de vitoriosa a Revolução de março de 1964, eu era Ministro do Exército quando o
presidente Geisel e seus parceiros prepararam a insídia de 12 de outubro de 1977, armada sobre
bases caluniosas - jamais provadas, nem por circunstâncias - e desencadeada na calada da noite,
como é habitual aos criminosos de traição.


Divulguei naquele dia um documento, preparado com antecedência, porquanto tinha a certeza de
que o presidente Geisel, dominado por sua natural idiossincrasia aos que dele divergem, em breve,
pelas minhas discordâncias ideológicas com o grupo palaciano, descartar-se-ia de mim, sob qualquer
alegação falsa ou verdadeira, no momento que julgasse oportuno e seguro fazê-lo.


Há homens que confundem altivez com insolência e dão imenso valor à subserviência, que
definem como compreensão. E, quanto mais vaidosos são eles, mais arraigados ficam a esta visão
estrábica do caráter alheio. Suas pretensas onisciência e onipotência não aceitam discordâncias,
ainda que leais e respeitosas.


Sobre aquele documento já escrevi o bastante no lugar adequado, todavia quero declarar que
dele não retiraria uma só palavra ou conceito, caso tivesse que reescrevê-lo, nas mesmas condições
e época em que o fiz.


Nestes anos que se seguiram à sua expedição, os acontecimentos vêm demonstrando ter sido eu
muito modesto nas apreciações negativas que expendi.


Revivendo os fatos para melhor conhecer os meandros destes acontecimentos, desejo dizer que a
partir do momento no qual o próprio presidente declarou-me "não ser infenso às esquerdas" tornou-
se agudo o conflito de sentimentos que latejava em minha consciência.


Deparava-me com verdadeira dicotomia - ser leal ao general Geisel e infiel aos princípios da
Revolução de 1964 ou desleal ao meu chefe imediato, enaltecendo os postulados revolucionários.


A lealdade ao presidente - que nunca lhe faltou de minha parte - importava na infidelidade à
Revolução, visto que seu procedimento chocava-se IDEOLOGICAMENTE com o pensamento
basilar do Movimento de 1964, que era e é de combater o comunismo e seus comparsas da luta
ascensional ao poder, isto é, os homens de esquerda.


A fidelidade aos postulados de 1964 levar-me-ia a dissentir do presidente e fatalmente a uma
ruptura de relações - previsível como ato, porém imprevisível no tempo. Poderia, no entanto, por tal

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