IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Castelo traçava o seu comportamento rigorosamente dentro dos padrões e normas tradicionais
existentes, enquanto Costa e Silva, embora manifestasse obediência às leis, não as tinha como
dogmas nem por indestrutíveis. Um, tendo como peculiaridade mental o bom senso, era reservado ao
extremo; o outro, situando-a na emoção, mostrava-se, em certos momentos, extrovertido. No conjunto
de suas características havia aquelas que os aproximavam e outras que os afastavam, todavia as
resultantes não deixavam dúvidas sobre seus tipos de liderança.


O general Castelo era o modelo do chefe INSTITUCIONAL, talhado para as épocas de
estabilidade, dos frutos sazonados, produtos de um plantio feliz.


O general Costa e Silva definia-se em todos os seus atos como chefe DOMINANTE, destinado a
imperar nos períodos de desintegração e violência, em que a acomodação é ridícula ingenuidade e a
persuasão estéril, durante os quais só a força é argumento entendido e obedecido.


Eu tinha profundo respeito e sincera estima pelo general Castelo, o militar austero e culto, mas
imensa admiração pelo general Costa e Silva, o guerreiro arrebatado, do diálogo franco e coração
generoso.


O general Castelo Branco, primeiro presidente do novo período político, não obstante seus
excelsos dotes morais e intelectuais, não era, entretanto, por sua mentalidade inflexivelmente
institucional, o homem adequado a realizar a primeira fase de uma revolução, exatamente a mais
aguda, aquela em que as ações destrutivas predominam de modo quase absoluto. Comprova-o, de
início, na seleção de seu Ministério, mais restaurador e conservador do que revolucionário.


A maneira pela qual foi elevado ao poder e a sua preocupação inicial de não exceder o tempo
que restava ao presidente deposto, cuidados inerentes à formação militar, que coloca sempre na
primeira linha de suas inquietações a obediência à lei e o cumprimento do prazo da missão, afastam a
idéia de que os chefes militares tenham vindo com o propósito de executar um programa doutrinário
reformador preestabelecido, isto é, que tenham planejado uma revolução.


As revoluções não marcam limites no tempo. Elas, dentro da doutrina que esposaram e vêm
difundir, elaboram e impõem as leis que vigorarão na nova ordem. Semeiam seus princípios,
especialmente na juventude, visando a dar-lhe raízes para sustentá-la até longínquo futuro.


Por conseguinte, não têm prazos e somente se exaurem com a integral concretização de seus
objetivos.


c) A falta de uma doutrina revolucionária


O lance de ilusionismo que transmudou o golpe de Estado em Revolução, para a qual, evidentemente,
não estavam preparados os homens que realizaram o Movimento Militar de março de 1964,
sobrecarregou-os de inesperadas e sérias responsabilidades. Dentre elas avultavam como imediatas

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