mesmo, não faças troça de mim mas essas palavras piegas de mulher na minha boca
- Amor
o ser capaz de pronunciá-las antes de chegarmos ao trinta e oito, isto é à porta de
casa, trinta e dois, trinta e dois A e não saía, eu a espremer o - Amor
e o - Amor
nada, a boca a recusar-se, a língua presa, a mercearia e a agência de viagens fechadas,
o prédio com andaimes onde morava uma prima afastada da minha mãe e um cão
sempre com açaime, infeliz de não poder ladrar que se notava nos olhos, uns sopros
indignados apenas, não existia tronco em que não largasse meia dúzia de gotas sem
alma, entrei lá uma ou duas vezes e persianas descidas, tristíssimas, ocupadas em
conservarem desgostos misteriosos, desses que se escondem por vergonha ou pudor, a
prima de vez em quando um suspiro longo e portanto na minha opinião melancolias
remotas, mortes, lutos, dívidas no talho, humilhações, quem não sofre nesta vida
levante o dedo e acuse-se, madrasta para todos olarila, a prima da minha mãe uma ruga
de conformação eterna que a gente, à força de não ser feliz, habitua-se que remédio,
vistas bem as coisas sempre é menos mau que morrer, faltam-me dois prédios para
declarar - Amor
e oxalá consiga, há criaturas para as quais não constitui um esforço por aí além e para
outras, como eu, um sarilho, nunca fui de expansões, sempre guardei as mágoas, uma
manhã, vindo na coluna de reabastecimento, até o capelão saltou com uma mina, ficou
que tempos de gatas na areia à procura dos óculos, ninguém disparou da mata
felizmente, devia ser um engenho antigo, esquecido, que rebentou um pneu sem
incomodar muito a gente e só depois de descobri-lo se queixou do tornozelo esquerdo,
o enfermeiro ligou-lho e o capelão disse a missa quase sem coxear, um bocadinho de
trotinete apenas, com um dos olhos muito maior do que o outro porque uma das lentes
se entortou, o soldado que o médico instruiu para arrancar dentes endireitou-as assim
assim com o alicate, pelo menos não foi preciso cravar-lhe nenhum joelho no peito nem
guardar nenhum abcesso numa compressa, um mulato passou por nós de bicicleta, a
assobiar e aproveitei a boleia do assobio para um - Amor
cochichado, discreto, a minha mulher que não percebeu - Disseste alguma coisa?
e eu calado, claro, há palavras que não ficam bem repetidas, desbotam-se, e entre
um - Amor
pálido e nada sempre é melhor o silêncio porque a gente pode sempre meter lá
dentro o que nos apetecer, a minha mulher ainda não as pedras nesse tempo, um
bocadinho mais gorda até porque com a idade se vai perdendo a leveza, os passos mais
fundos, a cintura que desaparece e depois com o nascimento da minha filha, será que o
porco suspeitaria de amanhã, a camisa de dormir não se aguentava nas costuras a não
ser que não respirasse, mesmo com todo o ar fora dela percebia-se um bocadinho de