não me segues sempre, não te encostas a mim, não te sentas ao meu colo, não
dormes ao meu lado na cama de bordão, deixaste de me conhecer conforme eu deixei
de te conhecer, o que nos separou diz-me, foi por causa de um homem que não conheço
de bruços na terra, uma mulher sem orelhas nem mãos, um preto de joelhos diante de
um soldado que dispara sobre ele, um velho de cócoras
- Sinto nos vossos semblantes
não, um velho de gatas - Nosso arfere nosso arfere
o soba da máquina de costura a coser, a coser, a adega apagada se calhar com o porco
já pendurado do gancho lá dentro, Sua Excelência para o preto, para o meu filho, para o
preto - Por amor de Deus vamo-nos embora depressa
arrastando uma mala, e eu junto à nespereira a escutá-los, eu a injetar-me a escutá-
los, alguém para alguém - Amor
longe da minha cama e eu a ouvi-los - Amor
ou antes apenas uma voz de mulher, nenhuma voz de homem - Amor
e depois silêncio, e depois o vento na serra, e depois o meu irmão comigo, no escuro
da horta, ao meu lado - Compreendes?
e eu quieta, o meu irmão de novo - Compreendes?
e eu a acenar que sim, creio que a acenar que sim, tenho a certeza que a acenar que
sim conforme o meu pai acenava que sim, conforme o meu pai para ele - Sim
o meu pai a hesitar - Filho
com mais firmeza - Filho
com firmeza - Filho
e portanto facas à espera, ele à espera, a minha mãe às escondidas e daqui a pouco
manhã, os aventais de borracha, a lampadazinha do teto, eu a tapar a cara com as
palmas, eu - Pai
e os olhos do porco, sérios, quietos, agudos, que gostavam de mim.