e não sei, palavra de honra que não sei, o que sucedeu a África, que quase nunca
esteve comigo, para voltar agora, apetece-me comer grilos, cristas de galinha, formigas,
fumar mutopa, serrar os caninos, armadilhar javalis, cumprimentar
- Aiué mamá
as mulheres defuntas, chupar um peito vazio, enterrar os mortos numa tábua
conversando com eles, qualquer coisa entre mim e o homem de bruços que não entendi
o que era, depois do ataque esqueci e voltou com a chegada do porco à adega que já o
oiço lá fora, as fungadelas, os suspiros, um ronco que pergunta e a que não sei
responder, a minha irmã - Ajuda-me
mais nespereira que irmã, a torcer-se no muro - Só queria ver-te adeus
Sua Excelência a puxar-me para a rua na direção do automóvel - Por favor
que é feito da tua amiga, que é feito do teu desprezo por mim, que é feito do teu
nojo de eu ser preto, de cheirar a preto, de te desgostar - Por favor
com medo de quê diz-me, com vontade de fugir, com vontade que eu te acompanhe,
um preto na minha cama que horror, um preto à minha mesa, aqueles cochichos, aquele
relógio, aquela pulseira ridícula, aqueles perfumes baratos, aquele dente de oiro na
frente de que não precisava e no entanto - Por favor
a chamares por mim, a procurares-me, a pegares-me no braço, a - Tu
como se eu branco quase, como se eu branco por fim, o meu pai de camuflado - Rapaz
mais novo do que eu agora e no entanto - Não lhe toquem
e no entanto - Rapaz
a puxar-me para o seu lado no banco do unimogue, para longe dos soldados e das
chamas e não sei quê a resistir em mim desde então, a não aceitar por completo, a
hesitar, a escapar-se, quer dizer a aceitar e a fugir ao mesmo tempo, esquecido das mãos
cortadas, esquecido das orelhas, esquecido da mulher no chão que dantes me
transportava às costas, embrulhado num pano, afastando os frangos para que eu
dormisse, aplaudindo-me - Euá
quando principiei a andar, o homem de bruços não falava comigo, entrava e saía e
quase não chegava a vê-lo, não se aproximava, não me dava atenção, não me recordo
de se interessar por mim como o meu pai se interessava, fazer-me perguntas, pôr-me a
palma no ombro, eu a aguçar melhor as facas numa tira de cabedal, na adega, sem dar
pelo meu pai sozinho - Com qual vai me matar?