- Mãe
custa às vezes, obrigo os lábios a - Mãe
e acontece-me sentir vergonha, sentir que a atraiçoo como atraiçoo a mulher sem
mãos nem orelhas que se eu chorava me estendia o peito vazio ou tirava o leite a uma
cabra para mo dar a beber, o peito oco na minha boca e eu sem chorar já, senhora, eu
sem medo da tropa e dos tiros e do sangue e dos jipes para um lado e para o outro
pisando-nos e das vozes que gritavam e dos cabíris trotando alguns passos antes de
caírem e de um alferes, sei lá porquê, a agarrar-me - Esse é meu
avisando as gê três - Ai de vocês se lhe tocam
um sujeito outrora magrinho e agora velho que nas últimas semanas engordamos
como o porco obrigando-o a comer, e os aventais de borracha, os alguidares, as facas,
Sua Excelência a tentar arredar-me das facas - Por amor de Deus vamos embora
empurrando-me, puxando-me, pendurando-se em mim - Por amor de Deus vamos embora depressa
enquanto o alferes magrinho me sorria contente - És tu quem vai matar-me não és?
o alferes mostrando-me às pessoas das cadeiras, com a mão no meu pescoço - Quero que seja o meu rapaz a fazer isto
radiante, orgulhoso, a examinar as facas comigo, a desviar um dos alguidares um
bocadinho com a ponta do pé, calculando-lhe a posição a partir do gancho no teto
enquanto as pedras da minha mãe, à nossa volta, iam girando, girando cada vez mais
depressa, as pedras para a minha mãe - Dá-nos licença que a acompanhemos?
o médico, triunfal - Como veem não há razão para alarmes
o homem que me trazia às cavalitas ajoelhava no quimbo com um último tiro e eu
ficava ali de pé, hesitando entre o terreiro e a adega, com a palavra - Pai
caída da minha boca, a palavra - Pai
a única pedra que me pertencia, hesitando entre os dois.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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