que se deve saber: a nossa compreensão não é infinita;
depois que recebe uma certa porção de inteligência,
fica sem poder receber mais, e se se lhe quer introduzir
com violência, cansa, e fica como imbecil, e enervada.
Depois que um vaso está cheio de licor, o que se lhe
deita mais, perde-se, e muitas vêzes do seu mesmo
fundo se faz levantar uma poeira sutil, que o turva:
daqui vem, que os sábios são confusos comumente,
embaraçados, e irresolu-tos, à maneira de quem leva
sôbre si um grande pêso, que sempre vai com mêdo, e
devagar: a imensidade de regras, de opiniões, e de
doutrinas, de tal sorte os ocupa, que ficam como
prêsos, e imóveis: a vaidade de razões, e de razões
contrárias, que um sábio acha em qualquer coisa,
suspende em forma, que fica sem saber, qual razão há
de seguir; em tôda considera fundamentos admiráveis
para serem aprovadas, e para o não serem, também em
tôdas considera fundamentos grandes: daqui vêm as
dilações, irresoluções, e perplexidades; êste é o caso
em que aquilo, que não decide a inclinação, decide a
hora; a fortuna é a que move a pena, que absolve, ou
que condena. O sábio que flutua no meio de razões, e
oposições iguais, finalmente lá se deixa levar por
alguma razão exterior, e indiferente; as coisas remotas,
que não têm relação alguma, nem conexão com a
matéria, entram em concurso, com as que formam o
corpo, e substância dela: o litigante a quem o juiz viu,
ou falou ultimamente; aquêle que sabe ser mais
cortesão, cuja voz é mais sonora, e cujo nome é fácil
de pronunciar, ou de escrever, êsse é o que vence, e a
quem se julga a palma; esta não foi tirada do campo da
peleja mas de outro lugar estranho, e independente.
Assim governam os sábios, por isso há tanta incerteza,
e mudança nas suas decisões; o que um disse, outro
zelinux#
(Zelinux#)
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