vêm de longe; a distância os enobrece, só porque
oculta a tosca rocha, ou a brenha sem nome donde
nascem. As coisas vãs necessitam de uma certa es-
curidade, que as esconda, porque como se estimam, só
porque se imaginam estimáveis, se se deixam
conhecer, perdem-se; a ignorância do que elas são, é o
que as conserva, e atrai a si um respeito religioso. São
poucas as vozes, que não sejam imprudentes; e pelo
contrário, todo o silêncio é discreto, e sábio; as coisas
que não se estimam por não serem conhecidas, são
raras: o merecimento transpira por tôda parte, e por
mais que se queira esconder, não pode, é como a
claridade, que sempre busca, e acha caminhos
invisíveis por onde passa: uma chama ativa não se
pode conter; ela se descobre, o mesmo fumo lhe serve
de indício. Não é isto assim na vaidade da nobreza,
porque a esta o que convém é ter um princípio
impenetrável, e que esteja envolvido em sombras tais,
que o exame as não possa romper; e que êsse mesmo
exame, já confuso, e embaraçado, não chegue senão
até àquela parte, donde a nobreza está mais brilhante, e
clara; e se lhe fôsse fácil andar mais, de sucessão em
sucessão, lá havia de encontrar os sinais, ou vestígios
da miséria, e junto a esta inseparável a vileza; assim,
bem podemos assentar, que a vaidade da nobreza é
uma introdução supersticiosa, a qual nasce da vaidade
do luxo, da vaidade da arrogância, e da vaidade da
fortuna.
Era preciso com efeito, que muitas vaidades (140)
concorressem, para poderem formar a vaidade da nobreza; era
preciso, que muitas vaidades se ajuntassem, (tôdas sutis, e
especulativas) para fazer que os homens cressem, que os
acidentes do tempo, da