romanos), de trinta e três discursos de eloquência política e jurídica, oito tratados
de retórica e oitocentas e sessenta e quatro cartas, contam-se quinze tratados de
filosofia,l integralmente conservados, com exceção de Sobre a república, de que
possuímos fragmentos, e Sobre as leis, de que restaram apenas três dos seis livros
que o compunham.
Um dos primeiros a escrever filosofia em latim, Cícero criou o vocabulário
filosófico latino, não só traduzindo os termos gregos, mas também inventando
neologismos, particularmente para o vocabulário estoico e para a medicina hipo
crática. Sua fa miliaridade com a eloquência lhe deu particular sensibilidade e
agudeza no tratamento da linguagem e, em várias de suas obras, chegou a discutir
a pertinência dos próprios vocábulos gregos, procurando mostrar a superioridade
do latim como língua mais rigorosa e precisa. Assim, por exemplo, no início do
Livro III das Tusculanas, quando introduz a classificação terminológica e conceitual
das diferentes fo rmas de doença do ânimo -insania, dementia, amentia -, explica
que não está simplesmente traduzindo o vocabulário grego, mas trazendo ordem
e precisão aos termos porque, embora "seja certo que os gregos também o fizes
sem, as palavras lhes fa ltaram". plutarco lhe atribui a invenção dos vocábulos
conceptio, conceptus, assentio, comprehensio, individuus, indivisiblilis, vacuum. Intro
duz a palavra repraesentatio - que, na obra jurídica, ele definira como "estar no
lugar de" e "fazer-se apresentar por um outro" -para traduzir phantásia. Cunhou
os vocábulos officium para traduzir o conceito estoico de kathekon, perturbatio para
traduzir páthos,furor para mania. Na abertura do Livro 11 das Tusculanas, depois de
afirmar os melhoramentos que a eloquência latina imprimiu à retórica grega,
declara que o mesmo poderá acontecer com a filosofia, se esta passar de Atenas
para Roma:
Exorto a todos que arrebatem da Grécia já enlanguescida e transfiram para nossa
urbe também a glória deste gênero, como nossos maiores, com dedicação e indús
tria, transferiram todos os demais, ou pelo menos os que eram desejáveis. [ ... ] Que
nasça de nossos tempos a filosofia com letras latinas [ ... ]. E se esses estudos fo rem transla
dados aos nossos, nem sequer necessitaremos das bibliotecas gregas, nas quais há
incontáveis livros por que foram incontáveis os escritores, pois isso acontecerá tam
bém com os nossos, se muitos estudarem e fo rem instruídos a filosofar com ordem
e método, empregando a precisão do dissertar (Tusculanas, 11, 5 e 6; grifos meus).226