National Geographic - Portugal – Edição 217 (2019-04)

(Antfer) #1

88 NATIONAL GEOGRAPHIC


A obsessão do Japão
por todas as coisas
kawaii (que pode
significar “querido”,
“fofo” ou “adorável”) é
visível no Parque Ueno,
onde os donos alinham
as mascotes para um
retrato. A estética kawaii
da cultura “fofa” tem
sido uma das mais
bem-sucedidas
exportações japonesas,
criando tendências de
cultura pop na moda,
nos jogos e nos
desenhos animados.

Frequentemente rotulada como conservadora,
a governadora tem passado grande parte do seu
mandato a combater, ou pelo menos a discutir,
aquilo a que chamou o “tecto de ferro” do Japão.
Uma vez empossada, decidiu defender causas
ambientais e a sustentabilidade urbana e, à se-
melhança do arquitecto Kengo Kuma, ela parece
achar que Tóquio atingiu uma espécie de meia-
-idade, a partir da qual poderá dar início a um
segundo acto.
Segundo afirmou, tem capacidade tecnológica
e financeira para se tornar mais ecológica e prepa-
rar os pormenores técnicos para enfrentar proble-
mas do futuro como a subida do nível do mar. As
questões sociais, porém, são mais escorregadias.
“Falta agora a diversidade em Tóquio”, afirmou.
“E um dos pilares de uma cidade diversificada é
contar com a participação de mais mulheres.”
Sendo eu oriundo de Brooklyn, achei a au-
sência de diversidade de Tóquio uma caracte-
rística regular e marcante da minha viagem.
Populações consideráveis de coreanos e chine-
ses vivem em Tóquio e muitas dessas famílias
estão lá há muitas gerações. O número de “re-
sidentes internacionais” também tem aumen-
tado ao longo do tempo: em 2018, um em cada
dez habitantes de Tóquio com cerca de 20 anos
não era japonês. No entanto, numa cidade tão
grande, esses grupos esbatiam-se rapidamente
e a diversidade, sob que forma seja, continua a
ser um tema desconfortável no Japão.
A célere reinvenção do país após a Segunda
Guerra Mundial tem sido frequentemente atri-
buída à aparente homogeneidade local, uma
crença generalizada de que o Japão está unido ét-
nica e linguisticamente, que todo o povo valoriza
a harmonia acima de tudo, com boas medidas de
obediência, fidelidade e auto-sacrifício.
São conceitos arriscados e a lista de compor-
tamentos talvez fosse mais adequada a um de-
senho animado sobre samurais. Contudo, alguns
japoneses consideram-nas qualidades sagradas e
até vulneráveis: os bens que um fluxo de estran-
geiros diluiria ou destruiria.
“A nossa maior dificuldade é saber como lidar
com a população em envelhecimento”, disse.
“Em contrapartida, Tóquio é um dos melhores
centros para enfrentar grandes desafios. A resi-
liência não é apenas de Tóquio, é uma caracte-
rística japonesa. Os japoneses são muito sérios e
levam a vida a sério.”
Uma brisa fresca proveniente do mar sopra
para longe, por instantes, o ar pesado e húmido

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