Crusoé - Edição 112 (2020-06-19)

(Antfer) #1

financiamento da estrutura destinada
a manter Queiroz calado e longe dos
holofotes: quem estava bancando o
ex-assessor?


Nas horas seguintes à operação,
interlocutores do presidente Jair
Bolsonaro já se moviam para
desvinculá-lo de Wassef. Sabiam, na
exata medida, da gravidade do fato
de Queiroz ter sido descoberto na
casa de alguém tão próximo do
presidente. E, claro, se preocupavam
como a óbvia transferência da crise
para o terceiro andar do Palácio do
Planalto, onde está situado o
gabinete presidencial.


A operação de contenção de
danos, porém, é de difícil execução.
Desde o início do governo, a figura
de Wassef está intimamente ligada
não apenas a Flávio Bolsonaro, mas
ao próprio Jair Bolsonaro. É o
próprio Wassef, sempre falante,
quem faz questão de, inclusive
publicamente, falar em nome do
presidente. Para além disso, o
advogado tem trânsito nos recintos
por onde Bolsonaro circula. Na
véspera da operação que descobriu
Queiroz em uma propriedade sua,
ele circulava serelepe pelo salão
principal do Planalto durante a posse
do deputado Fábio Faria como novo
ministro das Comunicações. Wassef
também costuma se reunir a sós com
o presidente. Por vezes, sem registro
na agenda oficial. No ápice da crise
na Polícia Federal que levou à saída
do ex-juiz Sergio Moro do governo,
ele visitou Bolsonaro no Palácio da
Alvorada. Era um domingo.


A proximidade do “Anjo” com
Bolsonaro incomodava figuras
importantes do entorno do
presidente, que desde o início do
governo enxergavam nele uma
possível fonte de problemas. Em
alguns períodos, convencido pelo
alerta dos conselheiros, Bolsonaro
até tentou se descolar. Mas o
afastamento não durou muito. Wassef
é um expert em cavar espaços, e
soube aproveitar ao máximo a
proximidade que construiu com o
presidente. Seu estilo briguento e sua
disposição para defender a família a
qualquer custo sempre agradaram a
Bolsonaro. Ironicamente, são o
voluntarismo e a coragem dele que,
agora, expõem o presidente a mais
uma crise. Se antes conseguia manter
alguma distância do rachid do filho,
Jair Bolsonaro passou a ser parte da
cena. Ele sabia? Autorizou a
proteção ao velho amigo de quartel?
Para além da possibilidade de
Queiroz resolver falar, os próximos
passos da investigação e,
especialmente, o material coletado na

operação desta quinta — incluídos
aí dois aparelhos celulares —
podem ajudar a trazer as respostas.

A operação que prendeu Queiroz
e moveu Wassef da posição de
defensor para a de suspeito de
articular uma ousada estratégia
destinada a obstruir as investigações
começou a ser preparada na terça-
feira, 16. Foi quando os promotores
do Rio de Janeiro entraram em
contato com colegas do Ministério
Público de São Paulo para informá-
los sobre o local onde o amigo da
família Bolsonaro estava residindo.
Há muitos meses, o setor de
inteligência do MP do fluminense
monitorava Queiroz e recebia
informações sobre seu paradeiro,
mas desde o pedido de prisão e a
autorização pelo juiz Flávio Itabaiana
os trabalhos se intensificaram para
identificar o local exato. Logo após
o contato, foi criado um grupo de
WhatsApp e a Polícia Civil paulista
foi acionada para verificar o
endereço indicado pelos promotores
do Rio.
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