Clipping Banco Central (2020-08-01)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Revista Exame/Nacional - Noticias
quinta-feira, 30 de julho de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central

e 2019, a mais fraca da história.


Quando a coisa parecia se acalmar, ocorreu o
choque da pandemia da covid-19, que deve
gerar a maior queda anual do PIB brasileiro em
pelo menos um século, segundo as estimativas
do Fundo Monetário Internacional. “A
discussão do bônus é chave quando se está
sem capacidade ociosa, como em 2012,
quando o país registrou a mais baixa taxa de
desemprego das últimas décadas. Mas agora
estamos a anos-luz disso”, diz o economista
Fabio Giambiagi.


Os últimos dados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios Contínua (Pnad
Contínua), de maio, mostram que menos da
metade da população em idade produtiva está
trabalhando no Brasil. É algo inédito.


A crise sanitária tem importante parcela de
culpa nisso ao impedir a circulação, em
especial a dos trabalhadores informais, mas
também camufla outro aspecto: a taxa de
desemprego beira os 13%, mas só considera
quem está efetivamente em busca de vaga.


À medida que o isolamento social se
enfraquecer, o mercado deverá ser inundado
novamente, pressionando a taxa para cima.
Estimativas apontam um desemprego de 20%
ao final de 2020. O término do auxílio
emergencial de 600 reais, previsto atualmente
para setembro, será outro fator de pressão na
renda das famílias.


Debora Balbino Pereira, de 26 anos, é um
exemplo dessa geração que não produz a
pleno potencial. Moradora do Grajaú, na zona
sul de São Paulo, ela cria sozinha um casal de
crianças e começou como jovem aprendiz na
Caixa Econômica Federal aos 15 anos.


Depois trabalhou em restaurante de shopping,


em escritório e como babá e cuidadora de
idosos. Mas, com a pandemia, só consegue
bicos e está recebendo o auxílio. “Recebo uma
ajuda aqui, outra ali. E assim vou levando”, diz.

O Brasil ainda poderá aproveitar benefícios
demográficos nas próximas duas décadas,
enquanto a pirâmide etária não se inverter
totalmente. Mas esse período de crise
duradoura também deixará cicatrizes. É o que
os economistas chamam de histerese, um
conceito emprestado da física para descrever
materiais que depois de modificados não
voltam à sua forma original.

Grosso modo, significa dizer que o ciclo
econômico ruim afeta a própria estrutura e
reduz a capacidade de crescer no futuro. No
caso do mercado de trabalho, quanto mais
tempo os trabalhadores ficam desempregados,
menos eles são empregáveis. “O engenheiro
que vira motorista de táxi na crise, se fica seis
meses na praça, pode voltar a ser engenheiro.
Mas, se ele permanece sete anos, o capital
humano dele já se foi”, diz Giambiagi.

O administrador de empresas Marcelo Victor,
de 53 anos, de São Paulo, vê de perto as
dificuldades do mercado de trabalho no país.
Desempregado há três anos, vive atualmente
de bicos: ora revende alho pela internet, ora é
ajudante de cozinha na hamburgueria de um
amigo. Sua principal fonte de renda hoje vem
do auxílio emergencial.

Com 25 anos de experiência nas áreas
administrativa e financeira de empresas,
considera que o último posto em que era bem
remunerado por suas competências foi o de
encarregado na empresa de transporte
rodoviário Viação Cometa, da qual foi demitido
em 2008. De lá para cá, prestou concursos
públicos, tentou empreender e aceitou
trabalhos temporários.
Free download pdf