acaba por ser danosa. Quanto melhor é o exercício do modelo, pior é para o país. Essa situação é
ainda mais grave nos países complexos e grandes, na medida em que a vocação homogeneizadora
do capital global vai ser exercida sobre uma base formada por parcelas muito diferentes umas das
outras e cujas diferenças e desigualdades são ampliadas sob tal ação unitária.
O dinheiro regulador e homogeneizador agrava heterogeneidades e aprofunda as
dependências. É assim que ele contribui para quebrar a solidariedade nacional, criando ou
aumentando as fraturas sociais e territoriais e ameaçando a unidade nacional.
O conteúdo do território como um todo e de cada um dos seus compartimentos muda de
forma brusca e, também, rapidamente perde uma parcela maior ou menor de sua identidade, em favor
de formas de regulação estranhas ao sentido local da vida.
É por esse prisma que deveria ser vista a questão da federação e da governabilidade da
nação: na medida em que o governo da nação se solidariza com os desígnios das forças externas,
levantam-se problemas cruciais para estados e municípios.
A questão é estrutural e, desse modo, o problema de estados e municípios é, no fundo,
um só; esse problema é constituído pelas formas atuais de compartimentação do território e o seu
novo conteúdo, que inclui as formas de ação do dinheiro internacional.
Epílogo
A questão que se põe como uma espada de Dâmocles sobre as nossas cabeças é a
seguinte: vamos reconstruir a federação para servir melhor ao dinheiro ou para atender à população?
Agora, tudo está sendo feito para refazer a federação de modo a que seja instrumental às forças
financeiras. São o Banco Central e o Ministério da Fazenda, em combinação com as instituições
financeiras internacionais, que orientam as grandes reformas ora em curso. Devemos, então, nos
preparar para a nova etapa que, aliás, já se anuncia – a da reconstrução do arcabouço político-
territorial do país ao serviço da sociedade, isto é, da população.
17.Verticalidades e horizontalidades
O tema das verticalidades e das horizontalidades já havia sido tratado por mim no livro A
natureza do espaço. Técnica e tempo. Razão e emoção (1996), sobretudo no capítulo 12. Vamos
agora abordá-lo segundo novos ângulos e ambicionando uma visão prospectiva, a partir desses dois
recortes superpostos e complementares do espaço geográfico atual.
As verticalidades
As verticalidades podem ser definidas, num território, como um conjunto de pontos
formando um espaço de fluxos. A idéia, de certo modo, remonta aos escritos de François Perroux
(L'économie du XX siède, 1961), quando ele descreveu o espaço econômico. Tal noção foi
recentemente reapropriada por Manuel Castells. (A sociedade em rede, 1999). Esse espaço de fluxos
seria, na realidade, um subsistema dentro da totalidade-espaço, já que para os efeitos dos
respectivos atores o que conta é, sobretudo, esse conjunto de pontos adequados às tarefas
produtivas hegemônicas, características das atividades econômicas que comandam este período