explícitos nem de políticas claramente estabelecidas. A própria existência, adaptando-se a situações
cujo comando freqüentemente escapa aos respectivos atores, acaba por exigir de cada qual um
permanente estado de alerta, no sentido de apreender as mudanças e descobrir as soluções
indispensáveis.
Pode-se dizer que tal situação assegura a permanência de forças centrípetas. Estas,
ainda que não sejam determinantes (já que as horizontalidades recebem influxos das verticalidades)
são dominantes. Tais forças centrípetas garantem sua sobrevivência pelo fato de que o âmbito de
realização dos atores é limitado, confundindo-se todos num espaço geográfico restrito, que é, ao
mesmo tempo, a base de sua atuação.
As horizontalidades, pois, além das racionalidades típicas da verticalidades que as
admitem a presença de outras racionalidades (chamadas de irracionalidades pelos que desejariam
ver como única a racionalidade hegemônica). Na verdade, são contra-racionalidades, isto é, formas
de convivência e de regulação criadas a partir do próprio território e que se mantêm nesse território a
despeito da vontade de unificação e homogeneização, características da racionalidade hegemônica
típica das verticalidades. A presença dessas verticalidades produz tendências à fragmentação, com a
constituição de alvéolos representativos de formas específicas de ser horizontal a partir das
respectivas particularidades.
A busca de um sentido
Ao contrário das verticalidades, regidas por um relógio único, implacável, nas
horizontalidades assim particularizadas funcionam , ao mesmo tempo, vários relógios, realizando-se,
paralelamente, diversas temporalidades.
Trata-se de um espaço à vocação solidária, sustento de uma organização em segundo
nível, enquanto sobre ele se exerce uma vontade permanente de desorganização, ao serviço dos
atores hegemônicos. Esse processo dialético impede que o poder, sempre crescente e cada vez mais
invasor, dos atores hegemônicos, fundados nos espaços de fluxos, seja capaz de eliminar o espaço
banal, que é permanentemente reconstituído segundo uma nova definição.
Pode-se dizer que, ao contrário da ordem imposta, nos espaços de fluxos, pelos atores
hegemônico e da obediência alienada dos atores subalternizados, hegemonizados, nos espaços
banais se recria a idéia e o fato da Política, cujo exercício se torna indispensável, para providenciar os
ajustamentos necessários ao funcionamento do conjunto, dentro de uma área específica. Por meio de
encontros e desencontros e do exercício do debate e dos acordos, busca-se explícita ou tacitamente a
readaptação às novas formas de existência.
O processo acima descrito é também aquele pelo qual uma sociedade e um território
estão sempre à busca de um sentido e exercem, por isso, uma vida reflexiva. Neste caso, o território
não é apenas o lugar de uma ação pragmática e seu exercício comporta, também, um aporte da vida,
uma parcela de emoção, que permite aos valores representar um papel. O território se metamorfoseia
em algo mais do que um simples recurso e, para utilizar uma expressão, que é também de Jean
Gottmann, constitui um abrigo.
Na realidade, a mesma fração do território pode ser recurso e abrigo, pode condicionar
as ações mais pragmáticas e, ao mesmo tempo, permitir vocações generosas. Os dois movimentos
são concomitantes. Nas condições atuais, o movimento determinante, com tendência a uma difusão