Chomsky_Noam_-_lucro_ou_as_pessoas

(mariadeathaydes) #1

eleição de Margaret Thatcher”. Uma outra manchete, Doenças do Tempo de Dickens Voltam a
Assombrar a Grã-Bretanha, referia-se a estudos que concluíram que “as condições sociais na Grã-
Bretanha estão voltando aos níveis de um século atrás. Particularmente cruéis são os efeitos da
redução do consumo de luz, gás, água e telefone num “grande número de residências”, à medida
que as privatizações seguem o seu curso natural, com uma série de mecanismos que favorecem os
“clientes de maior poder aquisitivo” e constituem uma “sobrecarga para os pobres”, levando a um
“crescente abismo de energia entre ricos e pobres”, para não falar da água, do gás e de outros
serviços. Os “cortes selvagens” nos programas sociais deixam a nação “aterrorizada com a
perspectiva de um colapso social iminente”. Mas a indústria e as finanças saem lucrando
muitíssimo com essas políticas. E, para culminar, depois de dezessete anos de evangelho
thatcherista, o gasto público permanecia no mesmo patamar de 42,25 por cento do PIE do dia em
que ela tomou posse.^4
O que não é exatamente algo que desconheçamos.


A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO
E A “EXPORTAÇÃO DOS VALORES NORTE-AMERICANOS”


Deixemos de lado, por um momento, o intrigante contraste entre a doutrina e a realidade, e
vejamos o quanto se pode aprender examinando a nova era que se abre ante nossos olhos. Muito –
creio.
A matéria do Times sobre como os “Estados Unidos estão exportando os seus valores de livre
mercado” comemora o acordo sobre as telecomunicações na OMC. Um dos seus efeitos mais
festejados é o de municiar Washington com um “novo instrumento de política externa”. O acordo
“dá poderes a OMC para entrar nos setenta países que o assinaram” e não é segredo para ninguém
que as instituições internacionais funcionam na medida em que respondam às exigências dos
poderosos, particularmente os Estados Unidos. No mundo real, então, o “novo instrumento” permite
que os Estados Unidos intervenham profundamente nos assuntos internos de outros países,
compelindo-os a mudar suas leis e suas práticas. Mais que tudo, a OMC tratará de assegurar que
outros países “mantenham o seu compromisso de permitir que os estrangeiros invistam” sem
restrições em áreas centrais de suas economias. No caso em questão, o resultado provável está bem
claro: “Os óbvios beneficiários dessa nova era serão as operadoras norte-americanas, mais bem
posicionadas para dominar um campo de jogo nivelado”, assinala a Far Estem Economic Review^5 ,
além de uma outra megacorporação Grã-Bretanha-EUA.
Mas nem todos estão encantados com essa perspectiva. Os vencedores reconhecem este fato e
dão a sua interpretação: nas palavras de Sanger, as outras nações temem que “os gigantes da
telecomunicação norte-americana... esmaguem os frágeis monopólios sancionados pelo governo que
há muito dominam as telecomunicações na Europa e na Ásia” – da mesma forma como nos Estados
Unidos, já passados muitos anos do tempo em que se tomaram de longe a maior economia e o mais
poderoso Estado do planeta. Vale a pena observar, também, que as principais contribuições à
tecnologia moderna (os transistores, por exemplo) são produto dos laboratórios de pesquisa desses
“frágeis monopólios sancionados pelo governo” que dominaram as telecomunicações na América do

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