A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1
1.30 / A loucura da razão econômica

M arx reconheceu logo cedo que criar o mercado mundial era inerente à pró­
pria natureza do capital, mas que, ao fazê-lo, seria preciso produzir um novo tipo
de espaço. Esse tema é articulado de maneira relativamente extensa no M anifesto
Comunista. O s capitalistas comerciais minaram os poderes estáticos da propriedade
fundiária feudal. Valeram-se de seu comando superior sobre o espaço para acu­
mular grandes quantidades de riqueza e poder, comprando barato em um lugar e
vendendo caro em outro. C om a ascensão do capitalismo industrial, “impelida pela
necessidade de mercados sempre novos, a burguesia invade todo o globo terrestre.
Necessita estabelecer-se em toda parte, explorar em toda parte, criar vínculos em
toda parte”. Isso confere:

um caráter cosm opolita à produção e ao consum o em todos os países. [...] As velhas
indústrias nacionais foram destruídas e continuam a ser destruídas diariamente. São
suplantadas por novas indústrias, cuja introdução se torna um a questão vital para todas
as nações civilizadas - indústrias que já não empregam matérias-primas nacionais, mas
sim matérias-primas vindas das regiões mais distantes, e cujos produtos se consomem
não som ente no próprio país, m as em todas as partes do m undo. Ao invés das antigas
necessidades, satisfeitas pelos produtos nacionais, surgem novas demandas, que recla­
m am para sua satisfação os produtos das regiões mais longínquas e de climas os mais
diversos. N o lugar do antigo isolamento de regiões e nações autossuficientes, desenvol­
vem-se um intercâmbio universal e um a universal interdependência das nações.2

Revoluções nos meios de transporte e comunicação aproximam todas as nações,
enquanto os “baixos preços de seus produtos são a artilharia pesada que destrói
todas as muralhas da China [...]. Sob pena de ruína total, ela obriga todas as nações
a adotarem o m odo burguês de produção [...]. E m um a palavra, cria um mundo à
sua imagem e semelhança”. ’
Essa é um a evocação espantosamente profética dos processos que recentemente
denominamos “globalização”. M as não é tudo.


A burguesia subm eteu o cam po à cidade. C riou grandes centros urbanos [...] suprim e
cada vez m ais a dispersão dos m eios de produção, da propriedade e da população.
A glom erou as populações, centralizou os m eios de produção e concentrou a proprie­
dade em poucas m ãos. A consequência necessária dessas transform ações foi a centrali­
zação política. Províncias independentes, ligadas apenas por débeis laços federativos,
p ossu in do interesses, leis, governos e tarifas aduaneiras diferentes, foram reunidas em

Idem, Manifesto Comunista (trad. Álvaro Pina e Ivana Jinkings, 1. ed. rev., São Paulo, Boitempo,
2010), p. 43.
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