A produção de regimes de valor / 161
pela imigração. C ada grande Estado-nação constituía-se como um regime de valor
singular, com regulações do capital que asseguravam sua soberania sobre sua pró
pria economia. M as esse m onopólio foi desafiado nos anos 1980 pela concorrência
ferrenha, por exemplo, de montadoras estrangeiras (alemãs, italianas, japonesas,
depois coreanas e hoje chinesas), enquanto empresas estadunidenses se instalavam
na China e em outros países. H á histórias semelhantes a respeito da mudança
do poder monopólico nacional para o poder monopólico global no agronegócio
(M onsanto e Cargill), no setor energético (as sete irmãs no setor petrolífero), na
indústria farmacêutica (Bayer e Pfizer) e nas telecomunicações. H oje temos novos
arrivistas monopolistas, com o Google, Amazon e Facebook, além de um movi
mento mundial de cercamento do conhecimento com um [knowledge commons\
em sistemas de patentes, licenças e formas jurídicas. E isso o que apoia e procura
garantir o Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacio
nados ao Comércio (AD PIC) no âmbito da O M C.
A concorrência, assinalou M arx em M iséria ela filosofia, resulta inevitavelmente
em monopólio, na medida em que apenas as empresas mais aptas sobrevivem no
universo darwiniano criado pela concorrência capitalista. M arx leva esse processo
um passo adiante em O capital quando descreve aquilo que denomina as “leis de
centralização do capital” — em muito favorecidas pela organização do sistema de
crédito - que vão muito além da simples concentração e do simples aumento no
tamanho das empresas em decorrência do processo de acumulação16. Nunca é
demais ressaltar a importância do papel das economias de escala no aumento da
produtividade. Essa é a vantagem competitiva que o capital visa em sua busca
desenfreada por centralização e aumento de escala. A acumulação de poder de
mercado pelos tubarões corporativos permite que eles engulam os peixes pequenos
por meio de fusões e aquisições17. A unificação dos mercados mundiais de ações na
década de 1980 também permitiu que esse processo se tornasse global.
A onda de inovações tecnológicas e organizacionais que ocorreu a partir de
meados dos anos 1980 reestruturou radicalmente os regimes de valor regionais.
Com a redução ou remoção seletiva de tarifas e outras barreiras alfandegárias, des
pencaram os custos de transporte e, ainda mais importante, os tempos de coorde
nação. A aceleração da produção e da circulação tem sido a cruzada fetichista desses
tempos. A criação de cadeias de produção globais possibilita combinações trans-
nacionais em que, por exemplo, uma empresa estadunidense fornece o projeto, a
organização e o marketing e o México fornece a mão de obra barata — assim como as
16 Ibidem, p. 702 e seg.
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