A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1
A produção de regimes de valor / 167

austeridade impostas à população. H oje, qualquer redução no volume do comércio
mundial ou instabilidade no balanço das crises comerciais é mais importante do
que nunca. U m decréscimo no volume do comércio mundial é hoje amplamente
aceito com o um prenúncio de crise global, a não ser que as instituições que in­
tegram aquilo que eu denomino o “nexo Estado-finanças” do capital (o Federal
Reserve e o Tesouro dos EU A , com o apoio do FM I, e os principais bancos centrais
do mundo) gerenciem efetivamente as reservas internacionais de dólar no comér­
cio mundial. Sem o padrão-ouro, vivemos hoje em um mundo no qual apenas a
manipulação e a gerência hum ana nos separam de uma catástrofe nos mercados
financeiro e de commodities. N ão se trata de defender aqui a volta do padrão-ouro.
Isso seria igualmente desastroso, se não mais.
Parece irrefutável a necessidade de se pensar em termos de regimes regionais de
valor que se sobrepõem e se relacionam uns aos outros de maneira dinâmica com o
passar do tempo. E igualmente inegável o fato de que, nas últimas quatro décadas, os
regimes de valor vêm convergindo cada vez mais, em especial em suas práticas de mer­
cado de trabalho. Estamos mais próximos do que nunca na história humana de um
mercado global de trabalho. E também inegável que há sinais de um a crescente
homogeneização de vontades, necessidades e desejos entre as populações de classe
média, por toda parte. M as há ainda um bom caminho pela frente até a homoge­
neização total dos múltiplos regimes de valor existentes. Todavia, como geralmente
ocorre com proposições de cunho marxista, não é difícil identificar forças contrá­
rias de desintegração, dispersão e realização, de modo que a tensão entre universal
e particular está sempre presente, para ser interiorizada na própria lei do valor.
N ão há e nunca poderá haver um sistema único de valores. É impossível fugir
das práticas histórico-materialistas mediante as quais o movimento do capital em
todo o m undo constrói e utiliza as diferenças geográficas no que diz respeito à
maneira como o trabalho social realizado para os outros é concebido, utilizado e
mensurado em diferentes regiões. Diferenciações geográficas e desenvolvimentos
geográficos desiguais são características importantes que precisam ser negociadas.
N o curso de seu movimento espacial, a universalidade do dinheiro mundial se de­
para com oportunidades radicalmente diferentes de valorização e condições subs­
tancialmente diferentes para a realização, não apenas por variações de vontades,
necessidades e desejos mas também por diferenças na capacidade de pagar. Embora
a concorrência (até mesmo aquela de cunho monopolista) possa funcionar para
amenizar algumas dessas diferenças, em outras instâncias ela ativamente produz
diferenças geográficas — mais evidentemente por investimentos diferenciais em ca­
pital fixo e no fundo de consumo do meio ambiente construído, que são fonte de
rendas fundiárias e imobiliárias diferenciais no cenário mundial. Isso conduz a um
aaucamento da concorrência entre economias locais, regionais e grandes potências

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