Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1

uma mulher namij, que pode ser, do ponto de vista da relação de pa·
rentesco, uma filha do filho de irmã purima, "esposável". é uma "irmã"
em termos de sUbsecções, tendo por conseguinte uma filha nabidjin, se·
gundo a regra indígena formulada em linguagem matrilinear: "namij pro·
duz nabidjin". Daí o conflito sobre o fato de saber se as subsecções são
patrilineares ou matrilineares.


A atitude geral dos indígenas, diz Stanner, é que os problemas se
resolverão por si mesmos. 410 esforço para tratar as subsecções como
grupos patrilineares não conseguirá sem dúvida implantar·se como prá·
tica geral, mas temos sólidas razões para crer que os Murimbata conse-
guirão formular, em forma de regra teórica, as variações relacionadas
com o sistema das subsecções que aparecem em outras tribos como re·
sultado de um sistema de casamento optativo" ~8, isto é, um ciclo pa-
trilinear de cinco gerações. Este fenômeno será estudado com detalhes
no capítulo seguinte. A noção de ciclo já está presente no espirito in·
dígena. "Os informadores têm satisfação em demonstrar como uma sub·
secção 'reaparece', seguindo·a ao mesmo tempo em linha paterna e em
linha materna. Os Warramunga conseguem isso com base em suas próprias
genealogias, mas os Nangiomeri e os Nurimbata devem contentar·se com
recitar os exemplos aprendidos nas tribos vizinhas. Não possuem o siso
tema de subsecções desde um tempo suficientemente longo para poder
dar uma demonstração genealógica de tal sistema"."


Enquanto se espera que um novo sistema permita integrar as exi·
gências do sistema tradicional com as do sistema tomado emprestado,
inventam·se artifícios provisórios para "corrigir" as irregularidades. Assim,
os Murimbata decidiram, em um caso concreto, que uma nangala, filha
de Tjanama e da nangari (o que é incorreto) esposaria um homem
Tjamira ou Djabidjln, e que seus filhos seriam considerados como Tulana
e nauola, em lugar de Tjalyeri e nalyeri, como deveria resultar da sub·
secção da mãe. Mas os indígenas dizem que esta filha nangala é "apesar
de tudo nangari", ou, empregando o pitgin de um Informador, "she no
more come up nothing herself". Porque ela é filha de Tjanama, e, recuo
sando levar em conta o fato de ser nangari pela relação com a mãe, é
classificada na sUbsecção nangari ou nalyeri na qual se encontraria se seu
pai tivesse se casado corretamente." A solução é procurada portanto no
tratamento patrilinear da filiação (de acordo com as idéias antigas), em·
bora o sistema atual seja matrilinear.


Vê-se bem por este exemplo, a que poderíamos acrescentar outros 3\
que os sistemas não devem ser tratados como objetos isolados, adoro
nados com seus caracteres particulares como outros tantos atributos que
lhes são indissociavelmente ligados. Por trás dos sistemas concretos, geo·
graficamente localizados e evoluindo através do tempo, há relações mais
simples que eles, que permitem todas as transições e adaptações. Só que-
remos considerar aqui os grupos na medida em que oferecem exemplos



  1. lbid., p. 207.

  2. Ibid., p. 210.

  3. Ibid., p. 214.

  4. A. P. Elkin, Sections and Kinship in Some Desert Tribes of Australia. Man,
    voI. 15, 1940, n. 24, p. 22.


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