Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1


dos po e dos shu. Mas uma interpretação análoga só poderia ser esten·
dida a chiu, shêng e yi se o Ego masculino se colocasse em uma pers-
pectiva matrilinear, o que acarretaria as maiores dificuldades. Com efeito,
a extensão de po ao Irmão mais velho do marido é um costume tardio,
datando do século X dC, portanto Incompatlvel com uma tal forma de
casamento (exceto se o costume pudesse ser localizado no Yunnan, o
que nenhum autor indica). Da mesma maneira, ku foi aplicado às Irmãs
do marido, somente cerca do século IV dC. Quanto a Vi, o termo é reser-
vado à Irmã da mulher no Ehr Ya, e sua extensão à irmã da mãe não é
comprovada senão a partir de 550 aC. A explicação possível por casa·
mento com a viúva do pai não se verifica em parte alguma.'
É preciso sem dúvida receber com reservas estas datas. QuandO os
costumes entram na literatura é porque já estão em prática "há muito
tempo. Pode também tratar-se de costumes locais, que se difundem em
uma nova região ou se incorporam ao uso geral, depois de uma guerra
de conquista ou da colonização de povos que possuem costumes próprios.
Seja como for, é impossível reduzir as cinco extensões enumeradas acima
a uma única forma de casamento ou a um sistema exato de parentesco.
Fêng propôs, tal como Chen e Shryok, interpretá-los pela tecnonímia,
isto é, ao chamar o cunhado chiu, ou po ou shu, o homem e a mulher
lhe faria somente a homenagem da terminologia empregada por seus
filhos em relação a ele. É a explicação proposta, desde o século XVIII,
pelos teóricos chineses. "O irmão de vossa mulher é chiu para vossos pró-
prios filhos. O pai adota a linguagem dos filhos e chama também o
irmão dê sua mulher chiu". T Mas que acontece com o termo yi? Neste
caso a extensão faz-se da geração inferior para a geração superior, sendo
preciso admitir que, por uma espécie de "tecnonímia às avessas", são
os filhos que adotam a linguagem de seu pai.'
Aos cinco exemplos discutidos em seu trabalho de 1936, Fêng acres-
centou outros três no estudo geral de 1937. O termo shên aplica-se, no
vocativo, à mulher do irmão mais moço do pai, e à mulher do irmão
mais moço do marido. A extensão à geração jovem data do período Sung.
Finalmente, há a extensão dos termos kung e p'o, dos avós aos parentes
do marido. Em todos estes casos, Fêng apela igualmente para a tecno-
nímia, que considera suficientemente espalhada na China e comprovada
desde uma época muito antiga (489 aC), para servir de explicação.'
Fêng talvez tenha razão. Mas é preciso fazer reservas à considerável
extensão dada por ele à noção de tecnonímia, empregada como uma es-
pécie de panacéia. O aparecimento da tecnonímia e sua influência em tal
ou qual caso determinado não constituem também problemas? Demo-
remo-nos por um momento neste ponto.

O termo tecnonímia foi criado por Tylor para designar o costume
segundo o qual uma pessoa, em lugar de ser chamada por seu nome, é
chamada pai, mãe, avô ou avó, etc., de um de seus descendentes. 1!: sem-
pre nessa mesma acepção que Lowie trata a instituição, '" e a interpreta


  1. Fêng, op. clt., p. 64.

  2. Citado por Fêng, p. 62.

  3. Idem, p. 65.

  4. Fêng, The Chinese Kinship System, p. 200-203.
    10. Fêng, Traité de sociologie primitive, p. 115-117.


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