Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1
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(conforme bem viu Shirokogoroff) seja também utilizado para designar
os genros e as noras. U Encontram-se também as combinações: nahundi
eskundi; nahundi eskundi dalhidi; nahundi dalhidi; tehemdi ina; dalhi
eskundi.
Consideremos, por exemplo, os nahundi. Em princípio, são os des·
cendentes do irmão da mãe. Mas são encontrados também na linhagem
patrilinear da mãe do pai: nahundi eéke, filho do irmão da mãe do pai,
nahundi oskundi, filho do filho do irmão da mãe do pai, nahundi eskundi
dalhidi, filho do filho do filho do irmão da mãe do pai, etc. Isto vem supor
que o pai casou-se com uma nahundi, único caso em que as duas séries
coincidem. Para que a linhagem da mãe e a da mãe do pai se super·
ponham é preciso, com efeito, que a mãe seja filha do irmão da mãe
do pai. Pode fazer·se um raciocinio análogo nos outros casos, a saber,
tehemdi (linhagem das irmãs da mãe), inadi (linhagem do irmão), etc.
Assinalamos a ausência de indicativo de série linear para a descen·
dência da irmã do pai. Existe contudo um termo tarsi que, diz Shiro·
kogoroff, é empregado muito raramente," que designa a relação de um
indivíduo com a descendência das mulheres da classe mais velha do clã
do pai e com a descendência dos homens da classe e do clã da mãe.
Mas é possível duvidar que esta simetria seja primitiva, quando se cons·
tata a existência de uma forma muito rara de casamento, designada pelo
verbo tarsielambi, expressão que pode traduzir·se, diz Shirokogoroff, "eu
me caso cOm minha tarsi, isto é, com a filha da irmã de meu pai"." Um
violento preconceito opõe·se a este tipo de casamento, mas na primeira
fila dos cônjuges preferidos encontramos nahundi ejun (primas cruzadas
matrilateraisl. .. É possivel, conforme quer Shirokogoroff, que os Mandchu
tenham paiÍsàdo da filiação matrilinear à filiação patrilinear." Mas, para
explicar a dissimetria, comprovada de maneira tão brilhante entre as
duas primas cruzadas, é inútil recorrer a esta hipótese. Encontramos
simplesmente a fórmula da troca generalizada, latente em um sistema
que se apresenta hoje com as aparências da troca restrita.
Mas estas aparências não enganam. Shirokogoroff pode realrriimte
escrever: "A troca das mulheres é a forma preferida do casamento ...
um clã dá uma mulher a outro clã e este responde dando em troca uma
mulher. .. um homem do clã A casa·se com uma mulher do clã B, e o
clã A dá a irmã em casamento ao irmão da mulher do clã B"." É pre·
ciso que acrescente não gostarem Os Mandchu dos casamentos entre
clãs já aliados, porque esses casamentos não ajudam o crescimento das
alianças. A tendência é portanto muito nitida no sentido de manter os
largos ciclos da troca generalizada. '" Aliás, os termos de parentesco GOld,
recolhidos por Lattimore, '" coincidem com os de Shirokogoroff para os


  1. lbid., p. 47, n. 2. 44. Ibid., p. 70, n. 1.

  2. Ibid., p. 70.

  3. Ibid., p. 67·68.

  4. Ibid., p. 70, n. 1, e p. 48-49.

  5. Ibid" p. 71.
    49. Shirokogoroff menciona uma proibição que chama, de maneira muito obscura,
    "facultativa", referente ao casamento com um clã já ligado ao do pretendente "por
    uma relação qualquer de clãs, ou religiosa, ou qualquer grau de parentesco com
    o clã da mãe" (op. cit., p. 65), É possível perguntar se não existe ai uma proi-
    bição, tipo gilyak, dos tuyma axmalk. No caso afirmativo o caráter de troca ge-
    neralizada do sistema manchu seria ainda com isso reforçado.

  6. O. Lattimore, op. cito


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