um clínico especializado em crise metabólica. E foi isso que ela foi fazer no
HRan, e para nós foi bom, porque do apartamento onde passamos a morar até
o hospital são apenas três quadras, ela podia ir a pé.
Em Brasília, a gente não tinha praticamente vida social. Não gosto de
badalação, de clube, de festas. De vez em quando saíamos para caminhar e
era isso. Uma vidinha pacata. Vez ou outra conseguíamos escapar para ir a
uma cachoeira, o que sempre me animou muito.
Terezinha era da minha turma na faculdade de medicina na Gama Filho, no
Rio de Janeiro. Eu e ela temos trinta anos de casados e foi mais fácil
atravessar a crise no ministério ao lado dela. Filha única de um casal de
portugueses, ela é muito apegada à família. Foi ela quem praticamente criou
nossos filhos, tenho que admitir, porque sempre fiquei muito fora de casa em
razão dos compromissos de trabalho. Ela também trabalhava, e muito, mas o
cuidado com as crianças, eu reconheço, é mérito dela.
A mãe da Terezinha, dona Ester, ficou viúva em 2005 e foi morar em um
apartamento do lado da minha casa em Campo Grande. A mãe dela tem 86
anos e não seria prudente deixá-la morando sozinha. Quando Terezinha
decidiu ir para Brasília, a dona Ester foi junto.
Quando o vírus começou a se espalhar, ficamos preocupados com minha
sogra. Afinal, eu e Terezinha estávamos trabalhando e nos expondo. A
Terezinha, apesar de trabalhar na área de diabéticos do HRan, frequentava um
hospital que se tornou referência no tratamento da covid-19. Era um risco
grande, até porque no Brasil o contágio dos profissionais de saúde é muito
alto. E eu continuava indo para Ministério da Saúde e para o Palácio do
Planalto.
“Se a sua mãe pegar o coronavírus ela vai correr um grande risco. Eu e
você, acho que conseguimos passar por isso, mas o que vamos fazer com sua
mãe?”, falei para ela.
antfer
(Antfer)
#1