DEZEMBRO 2020. EXAME. 51
sam dos espanhóis e o que os alemães pen-
sam dos franceses. Mas à medida que fo-
mos concretizando contratos com grandes
players e que pudemos dizer que éramos
fornecedores deste e daquele, as portas
também se abriram rapidamente”, pros-
segue Francisco Correia. “Depois disso, o
nosso crescimento em Espanha foi muito
rápido, a crescer consecutivamente todos
os anos e um alicerce importante do nos-
so negócio.”
Passar de Espanha para o centro da
Europa, com destaque para os países do
Benelux e a França, e desta para os paí-
ses francófonos, como Marrocos, Tunísia,
Costa do Marfim, Senegal ou Guadalupe,
foi mais uma vitória. Tanto mais que, por
aqui, já não se apresentam como uma fá-
brica a trabalhar em private label, mas sim
com uma série de marcas próprias que se
vão rejuvenescendo em coleções coloridas
e condizentes entre si de cadernos, mochi-
las e estojos – e que farão as delícias dos
mais novos por serem exclusivas.
Licenciado em Gestão pela Universida-
de Lusíada, Francisco Correia tem as ideias
bem assentes. “Na Península Ibérica, temos
de ser competitivos em preço; somos a fá-
brica. Fora daí, temos de trabalhar numa
ótica de longo prazo. E, nos mercados do
Norte de África, há mais de 300 milhões de
pessoas, poucos velhos e muitos novos, ao
contrário dos países europeus. E onde há
menos crianças, há menos [compradores
de] cadernos.”
E, assim, a Ancor, que tem sede na Maia
e fábrica de 15 mil metros quadrados em
Vila do Conde, de onde saem anualmente
30 milhões de unidades, passou de uma fa-
turação de seis milhões de euros, em 2010,
para 15,7 milhões, em 2019. E o valor da
venda de marcas próprias, com o respeti-
vo valor acrescentado, já quase ultrapas-
sou o valor da produção em private label.
E o crescimento foi na ordem do milhão de
euros por ano.
A Ancor conta, hoje, com mais de 30 dis-
tribuidores em mais de 30 mercados dife-
rentes. “Essa é a nossa estratégia: ter muitos
mercados, não pôr tudo no mesmo cesto.
Não quero ser uma fábrica da Alemanha,
quero vender lá 200 ou 300 mil euros. Não
estou interessado em ir a um gigante que,
depois, me come vivo. Quero vender aí uma
gama de valor acrescentado, alargada, com
alguma exclusividade”, aponta o gestor.
Com o armazém recheado de bobines de
papel da Navigator, que serão transforma-
das em cadernos de diversos estilos e cartões
à espera de serem forrados e moldados em
pastas de arquivo, a Ancor pensa já nas cole-
ções a apresentar para a abertura do ano es-
colar de 2021/2022. Até porque a pandemia
veio interromper a cadência do crescimento
verificado na última década.
“Este ano, estamos a lutar para não
perder mais de 10% das vendas e estamos
alinhados para conseguir isso. Devemos
fechar o ano com menos 1,5 milhões de
faturação, sobretudo nos produtos de uso
A nossa estratégia
é ter muitos
mercados. Não
estou interessado
em ir a um gigante
que, depois, me
come vivo”