marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 279

Arruda, ele era considerado um cara autoritário do partido, dava bronca,
embora ele nunca tivesse tido nenhuma dessas atitudes comigo, também
não sei por que, mas nunca teve. Eu não tinha a mesma simpatia, o
mesmo tipo de relacionamento que eu vim a ter como Marighella. Mais
tarde, eu só vim a conhecer um outro companheiro, mais ou menos
do mesmo porte assim do Marighella, no trato com as pessoas, que era
o Giocondo Dias. Foram os únicos que eu conheci no partido e que
me deram vontade de lutar mais ainda, foi importante ter conhecido
esses dois (risos). A maneira que eles me tratavam, sem arrogância, sem
discriminação, aquilo ficou como um amigo, um irmão, uma coisa
dessas, eu até me sentia mais revoltado. Depois que eu conheci esses
dois companheiros, me convenci da necessidade da luta. Até então, eu
já tinha um certo convencimento, mas ele se intensificou.


Edson – Você, antes de conhecê-los, não tinha uma boa relação
com os comunistas?
Geraldo – Sempre tive uma boa relação com todo mundo. O
que eu quero te dizer é que a maioria dos dirigentes do partido só
tratava das questões do partido, não saía com outras conversas, de
brincadeiras, de sacanagem, de piadas. Por exemplo: eu militei na
Executiva do partido mais de dez anos com o Prestes, nunca tive um
diálogo com o Prestes fora do contexto. Prestes, o homem que dá
a última palavra, fecha a reunião, abre e acabou. O Prestes não era
comunicativo, basta te dizer que ele não admitia militante do partido
não chamá-lo de senhor. Para falar com o Prestes, o cara precisava
estar todo perfilado. Não sei se é a razão de muitos deles terem sido
militar, diferentemente de outros dirigentes. Prestes era assim mesmo,
não sei se por cópia, uma boa parte de dirigentes do partido, tem isso
também, a imitação, o cara pensava que ganharia autoridade.


Edson – Qual era o comportamento de Marighella relacionado à
descontração. Eu vou ler uma parte de seu livro, um depoimento da

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