Delineando a pesquisa clínica 4a Ed

(AlbertoBarroso) #1
enviesada dos desfechos (19). Indivíduos com esclerose múltipla foram
aleatoriamente alocados para uma combinação de plasmaferese,
ciclofosfamida e prednisona, ou para plasmaferese fictícia e placebo das
medicações. No final do estudo, a gravidade da esclerose múltipla foi
avaliada com o uso de um exame estruturado por neurologistas cegos para
a alocação do tratamento e também por neurologistas não cegos. O
tratamento não foi eficaz com base na avaliação dos neurologistas
cegados, porém houve eficácia estatisticamente significativa com base na
avaliação dos neurologistas não cegados. Os neurologistas não cegos não
estavam intencionalmente buscando enviesar o desfecho do ensaio
clínico, porém há um forte desejo humano de ver os pacientes
melhorarem após o tratamento, especialmente se o tratamento puder
causar dor ou for potencialmente danoso. O cegamento minimiza essa
adjudicação enviesada do desfecho.
A avaliação cega pode ser menos importante se o desfecho for “duro”
(hard), como óbito ou medições automatizadas, sobre os quais há pouca
possibilidade de avaliação enviesada. A maioria dos outros desfechos,
como causa do óbito, diagnóstico de doença, aferições físicas, escalas de
questionários e doenças autorrelatadas, são suscetíveis a avaliação e
adjudicação enviesadas.
Após a conclusão de um ensaio clínico, pode valer a pena avaliar se os
participantes e os investigadores não foram “descegados”. Para tanto, eles
são convidados a tentar adivinhar as designações de tratamento. Caso uma
proporção maior que o esperado acertasse, a discussão do artigo publicado
sobre os achados deveria incluir uma avaliação sobre os potenciais vieses
desse “descegamento” parcial.

O que fazer quando o cegamento for impossível


Em alguns casos, o cegamento é difícil ou até mesmo impossível, seja por
motivos técnicos ou de ordem ética. Por exemplo, é difícil cegar
participantes alocados para intervenções educacionais, nutricionais ou de
atividade física. Intervenções cirúrgicas muitas vezes não podem ser
cegadas, porque pode não ser ético realizar uma cirurgia fictícia no grupo-
controle. Contudo, qualquer cirurgia sempre está associada a algum risco,
de modo que é muito importante determinar se o procedimento realmente
é eficaz. Por exemplo, um ensaio clínico randomizado recente mostrou
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