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Revista Exame/Nacional - Opinião
quinta-feira, 11 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
chance de uma mulher chegar a um cargo executivo é
80% menor do que a probabilidade de um homem
alcançar esse posto. Isso ocorre porque, em geral, elas
enfrentam mais barreiras para ascender
profissionalmente.
De acordo com um estudo da Bain & Company, a
probabilidade de uma mulher não ser considerada para
uma oportunidade porque é percebida como não flexível
ou com baixo comprometimento é 70% maior do que a
chance de isso acontecer com um homem. Esse é um
preconceito claramente atrelado à maternidade. Não por
acaso ter filhos é um ponto dramático para a carreira de
uma mulher: pesquisas mostram que a desigualdade
salarial entre gêneros se intensifica após o nascimento
das crianças.
Além disso, a pesquisa mostra que mulheres líderes
recebem muito mais feedbacks sobre a necessidade de
mudar seu estilo de gestão do que os pares do gênero
oposto. Anos atrás, quando trabalhava em um banco
tradicional, recebi uma das críticas mais bizarras da
minha carreira: recomendaram que eu mudasse a
maneira de me vestir para me parecer mais com meus
pares homens. Deveria substituir vestidos e saias por
calças e terninhos para me adequar ao universo
masculino.
Essa experiência aponta para um fato importante:
diversidade e inclusão vão além de metas para elevar
os índices de grupos sub-representados em uma
empresa. Nesse caso, eu era a única mulher em um
cargo de liderança em um setor dominado por homens.
No papel, eu representava um percentual de
diversidade. Mas o ambiente não me aceitava como eu
era. Isso não é inclusão. Mais do que melhorar
números, é preciso criar uma cultura corporativa em que
as pessoas se sintam seguras e livres para ser quem
elas são de verdade.
Para que isso aconteça, é preciso desafiar o statu quo o
tempo todo. Como sociedade, precisamos fazer um
pacto para gerar mudanças estruturais que garantam
avanços consistentes nessa área. Desde revisão de
processos de seleção e promoção nas empresas até um
real comprometimento com a educação de nossas
crianças. Muito se fala sobre a importância de priorizar o
ensino formal como garantia de uma geração
qualificada no futuro.
Mas é importante lembrar que a escola também tem um
papel fundamental para a economia no presente, já que
libera mães para focar suas carreiras. É preciso revisitar
também os acordos dentro de nossas casas. Antes da
pandemia, as mulheres já gastavam o dobro de horas
com afazeres domésticos do que os homens. Isso
precisa mudar.
Eu engravidei da minha primeira filha pouco tempo
depois de fundar o Nubank. Com sete meses de
gestação, voei para os Estados Unidos com meus
sócios para fazer o pitch da nossa primeira rodada de
investimentos. Imagino que tenha sido um fato inédito
para os investidores ver uma grávida fazendo um pitch.
Mas eles perceberam em mim, no mínimo, uma pessoa
que estava muito a fim de fazer essa empresa dar certo.
É esse tipo de olhar — desprovido de ideias
preconcebidas — que acelera a paridade de gêneros.
Meu sonho é que, daqui a uns anos, quando eu contar
essas histórias para as minhas filhas, elas respondam
incrédulas: “Jura, mamãe, que as mulheres eram
tratadas desse jeito no passado?”.
Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas