Banco Central do Brasil
Revista Isto É Dinheiro/Nacional - Capa
sexta-feira, 12 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Paulo Guedes
governo. Para Geraldo Barbosa, presidente da
Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas
(ABCVAC), o Brasil precisa aproveitar o mais breve
possível os 15 mil pontos privados de vacinação,
incluindo as 3 mil clínicas particulares. “Se a imunização
pública estivesse sendo conduzida de forma mais
organizada, as clínicas privadas de vacina estariam
mais perto de poder entrar e contribuir”, disse.
Somado ao caos logístico e de planejamento em
relação ao PNI, a apreensão agora gira em torno da
próxima campanha nacional de combate ao vírus
influenza, que deve ter início no mês que vem. Há
necessidade, por exemplo, de mais seringas para
garantir a aplicação das doses. Com necessidade de
duas aplicações, as 325 milhões de seringas só
garantem a imunização de pouco mais de 150 milhões
de brasileiros. Desse total, 60 milhões vieram de doação
da Vale, 40 milhões por meio de acordo celebrado com
a Organização Panamericana de Saúde (Opas), além
de 100 milhões adquiridas pelos estados. É necessário
pelo menos o dobro.
Paulo Henrique Fraccaro, superintendente da
Associação Brasileira da Indústria de Artigos e
Equipamentos Médicos (Abimo), falta coordenação na
aquisição dos insumos. “Uma compra centralizada deixa
sempre o produto mais barato. Mas não dá para olhar
para o retrovisor e sim garantir a entrega das seringas”,
disse. “Agora falta a definição do governo sobre as
próximas compras.”
E quanto mais se avança em 2021 com as
necessidades relacionada às ações de combate à
Covid, menor será a chance de que as pautas
econômicas sejam colocadas em prática antes do
calendário eleitoral do ano que vem. “Do jeito que está,
a vacinação só começará a surtir efeito perto de agosto.
Enquanto isso, sentiremos os efeitos principalmente na
economia”, disse Alan Gandelman, CEO da Planner
Corretora. “Esperava-se que as reformas andassem.
Isso tudo terá impacto.” Na visão do ex-ministro
Mandetta, “será praticamente um semestre perdido para
quem depende de serviços, como eventos, hotelaria,
turismo e outras áreas”.
Se há uma boa notícia em meio ao caos é que a
Coronavac, aposta do governo de São Paulo e que tem
sido responsável por quase 90% das imunizações de
brasileiros, é eficaz contra as variantes que hoje
circulam no Brasil, segundo pesquisa do Butantan em
parceria com o Instituto de Ciências Biomédicas da
Universidade de São Paulo (USP).
ENTREVISTA - Luiz Henrique Mandetta
“A sequela da Covid na economia vai exigir muita
liderança. E isso não há hoje”
Por que perdemos a chance de mostrar ao mundo a
eficiência do Plano Nacional de Imunizações?
Eu falava, quando ainda estava no ministério, que o
caminho era a ciência e a vacina, mas não fui ouvido.
Eles imaginaram que essa doença geraria imunidade de
rebanho e que tornaria a vacina desnecessária. E só
entraram com o acordo com a Fundação Oswaldo Cruz
(que irá produzir a vacina da AstraZeneca em parceria
com a Universidade de Oxford) para dizer que estavam
apostando uma corrida com o Instituto Butantan
(responsável pela produção da Coronavac). E ficou uma
decisão política e científica burra. Quando se soma
burrice em duas ações nevrálgicas, dá no que estamos
vendo.
Isso pode afetar a reputação do PNI daqui para a
frente?
Isso se recupera. Quando mudar o governo, algumas
ações do SUS terão de ser recolocadas em seu lugar.
Uma delas é o PNI. O problema é o impacto na
economia em não utilizar um sistema desse.
Há perspectiva de mudança no cenário?
Agora estão tentando passar outra imagem da que