Melhor - Gestão de Pessoas - Edição 378 (2019-06)

(Antfer) #1
18 REVISTA MELHOR

Como deve ser a empresa do futuro


e como ela pode reverter esse


cenário de desumanização?
Acredito que as empresas que vão sobreviver e de-
sempenhar um papel importante e duradouro no futu-
ro serão aquelas que apostarem na humanização. Mas
em qual sentido? No sentido de se tornarem conscien-
tes de que, mais do que um espaço de produção e lu-
cratividade, serão também um espaço de desenvolvi-
mento humano. E não apenas no aspecto estritamente
técnico e profissional, mas também no existencial. Es-
sas empresas terão papel pioneiro e darão o tom para
o desenvolvimento corporativo no futuro. Na minha
opinião, hoje, as corporações estão muito focadas na
perspectiva do desenvolvimento digital e tecnológico,
pensando o futuro com Inteligência Artificial e robôs.
Mas, e o fator humano? De que vai adiantar essa revo-
lução tecnológica, do ponto de vista de operação, se o
fator humano não estiver presente? E, aqui, falo sobre
sensibilidade, inovação e criatividade, por exemplo.
Para termos isso, é preciso cultivar o aspecto huma-
no. E, para cultivá-lo, as empresas terão de ser espaços
de desenvolvimento do humano de maneira cada vez
mais ampla e aprofundada.


ENTREVISTA


E nessa empresa, quais os
papéis da área de recursos humanos
e das lideranças?
O primeiro papel é perceberem que só se pode pensar
em lucratividade e produtividade a partir do fomento
da dimensão humana e do investimento no humano.
Nesse sentido, as lideranças – principalmente da área
de RH – terão papel cada vez mais importante. Por isso,
o momento atual é de se preparar para o futuro, for-
mando essas novas lideranças. Temos de ter líderes da
área de recursos humanos cada vez mais humanistas;
pessoas que transcendam uma formação técnica, siste-
mática, e que possam descobrir o valor, a dimensão e a
amplitude do fator humano. Por essa razão é que acre-
dito que essa liderança de recursos humanos também
será a mais importante de uma empresa. Porque, para
todas as outras áreas, temos recursos tecnológicos cada
vez mais sofisticados. Mas, do ponto de vista da forma-
ção humana, essas lideranças se tornarão absolutamen-
te indispensáveis. E para que isso ocorra, é fundamental
investir na formação humanística desses colaboradores.
O líder de RH do futuro deverá ser um perito em Hu-
manidade, terá de ir além do escopo ou do território de
formação definido hoje, terá de estar antenado e focado

ara Dante Gallian, ela é o quarto botton line (a partir da ideia do triple botton line), que entra
na perspectiva da competência produtiva e da lucratividade, por um lado, e, num segundo
momento, na questão da responsabilidade social e da sustentabilidade, hoje associadas às com-
petências e aos valores das companhias. “Responsabilidade Humanística aparece como a quar-
ta e fundamental dimensão de valores a ser incorporada e desenvolvida pelas empresas em ambiente
corporativo. Com ela, a companhia torna-se responsável pelo aspecto social, ecológico e também pelo
aspecto humano, humanístico”, diz. Ou seja, trata-se de aprofundar e ampliar o conceito de sustentabi-
lidade não só para o ambiente externo, mas também para o interno. “É uma espécie de ‘sustentabilidade
da alma’. E isso tem muito a ver com esse ambiente desumanizador e patológico que o ambiente corpo-
rativo vive nos dias atuais. Além de produzir riqueza e lucratividade, a empresa, muitas vezes, produz
doenças. Ela aparece como uma grande produtora de desumanização. E isso é uma coisa paradoxal,
que conta contra ela própria”, observa Gallian. Ele acredita que um dos grandes desafios das empresas
no futuro é tornarem-se humanisticamente responsáveis, assumindo a importância e a necessidade de
cuidar da alma dos seus colaboradores, para que eles consigam produzir diferencial e transformem o
ambiente corporativo num ambiente mais saudável e produtivo.

A responsabilidade humanística


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