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Vale a pena. Levo este, mas não passo de um cafezinho hoje. Nem
vou pagar em dólar. O câmbio melhora depois do feriado.MURILO AHMED (Serve o café, dá duas palmadinhas leves no
bolso direito da própria calça, ri discretamente, recebe e conta o
dinheiro):
Hoje, você nem janta pra economizar.(De repente, ouve-se barulho de pessoas correndo. Murilo Ahmed sai
rapidamente de trás do balcão e segue até a porta)CENA2 ∙ EXTERNA ∙ PORTA DO BAZAR ∙ INÍCIO DA NOITEMURILO AHMED (Ao pé da porta, com gestos nervosos, gesticula
com as mãos, arruma o avental e olha ao redor com curiosidade):
É passeata! Parece um tanque militar na praça jogando água
em manifestantes, que estão correndo pra o lado de cá. Uma
confusão!POPULARES (In Off/ Vozes retumbantes repetem em coro):
Abaixo a ditadura! Fora, general! Abaixo a ditadura! Fora, general!MURILO AHMED (Fecha a porta e fica olhando pela fresta):
A situação está se agravando, Milord!GERARD DURAND (Ajeitando o suspensório da calça e arrumando
o paletó, chega à porta entreaberta e também espia o movimento):
Bando de vagabundo comunista! Deveriam ir pra Cuba enfrentar o
paredón!MURILO AHMED: Tenha calma! Não vá agora não!GERARD DURAND (Protestando, colérico):
Filhos da puta! Estragaram minha noite! É para isso que servem
esses protestos. E, amanhã, isso aqui vai virar um inferno!MURILO AHMED: Já é um inferno. Todo dia, greve e protesto!GERARD DURAND: Preguiçosos, arruaceiros! Não querem ordem e
progresso. Brasileiro não quer trabalhar!MURILO AHMED (Fechando o semblante, olha para Gerard
Durand):
É verdade. Nem vou abrir amanhã. Se tiver novidade, vou saber