Nas horas depois em que ela se vai, eu me sinto inquieto, os
quatro cantos do quarto do hospital apertando-se em volta de
mim conforme passo mais tempo aqui.
Eu deveria ter dito algo diferente? Eu passei tanto tempo
pensando no que diria a Kim se a visse de novo e eu estraguei
tudo porque estou obcecado pelo fato de Marley não estar em
lugar nenhum.
Eu sinto como se não tivesse espaço no meu cérebro para
mais nada. Cada canto da minha mente está se dedicando às
possibilidades. Lugares em que ela pode estar. Explicações.
Memórias.
Eu enfio a mão na mochila que minha mãe trouxe e pego a
caixinha de joias azul, recuperada do acidente. Eu a abro e
encaro a pulseira de berloques. Ela parece tão diferente para
mim agora. Eu me lembro de a ter observado por horas,
pensando que ela faria Kim ver o que tínhamos.
Eu nem sei como explicar para ela o que eu vejo agora.
Especialmente quando eu tive um ano inteiro para pensar nisso e
ela só teve um minuto.
Um ano inteiro. Eu tive um ano inteiro para me desapegar,
para me curar. Eu vivi o que parece ser uma vida toda nova e eu
não sei como voltar para ela. Como encontrar Marley. Como
encontrar nossa vida juntos.
Eles ficam me dizendo que isso é a realidade, mas como
pode ser se ela não está aqui?
Fico aliviado quando uma enfermeira traz uma cadeira de
rodas para o meu quarto, para me levar para minha primeira
sessão de fisioterapia segundos depois da minha mãe me
mandar uma mensagem dizendo que vai voltar amanhã para
mais um café da manhã cinco estrelas na cafeteria do hospital.
Eu encaro meu celular enquanto a enfermeira me ajuda a sentar
na cadeira, seu cabelo castanho comprido entrando no meu
campo de visão e me lembrando tanto de Marley que eu preciso
fechar os olhos com força.
Frustrado, eu deixo minha mãe sem resposta e guardo o
celular. Eu não consigo falar com ninguém agora.
car0l
(CAR0L)
#1