Restinga Paralela = Parallel Restinga

(Vicente Mussi-Dias) #1
Capitania de Pero de Góis, 1631. Carta naútica de João Teixeira Albernaz
Captaincy of Pero de Gois, 1631. Nautical chart by João Teixeira Albernaz

escrivão anônimo que acompanhou os capitães nas suas três
excursões aos seus domínios. Da sua leitura, pode-se depreen-
der que, em parte é autêntico, em parte é apócrifo. Seja como
for, trata-se da primeira descrição detalhada da futura região
norte do Estado do Rio de Janeiro. Os capitães empreenderam
três viagens às suas sesmarias para poderem se assentar com
seus parentes e agregados. Da primeira, em 1632, há várias re-
ferências às restingas da região, pois a comitiva marchou a pé,
de Macaé aos campos dos Goitacases, acompanhando a costa,
já que a tentativa de atingir por mar as sesmarias, entre os rios
Iguaçu e Macaé, fracassou. O documento traz reclamações dos
viajantes pelas dificuldades em caminhar nos areais, menciona
matas nas proximidades do mar e nas margens de lagoas cos-
teiras, registra charnecas com areia e chavascais, com pontos
alagadiços. No Brasil, charneca é sinônimo de pântano, como
ensina Holanda Ferreira(11). O significado português da palavra,
contudo, também por Moraes e por Aurélio(4, 11), é o de “Terra


areenta, estéril, que apenas dá ervas bravias.” Nesta acepção é
que o Roteiro dos Sete Capitães emprega o termo, visto não ser
ele ainda usado, no século XVII, para indicar áreas embrejadas.
O autor do manuscrito fala mais de uma vez que, saindo da faixa
de areia do litoral e caminhando para o interior, encontravam-se
charnecas com areais salpicadas de lugares alagadiços e de
matas situadas não muito longe do mar. Para o interior, alastra-
vam-se as campinas. Novamente, o documento revela-se fiel
à configuração ambiental da planície norte fluminense. O con-
traste entre restinga e planície aluvial é nítido:

... caminhamos sobre a marinha e ti-
vemos areais: para suportarmos das
fadigas descemos das marinhas para
a campina em razão dos areais; cami-
nhamos beirando a campina da parte do
noroeste; faziam lagos de água, e des-
tas águas é formado o rio Iguaçu. Ele
tem seu nascimento na grande Lagoa-
-feia, a que lhe demos o apelido, no fun-
do saco apantanado traz sua corrente
a leste; suas águas são encanadas por
uma espécie de rio, fazendo suas voltas,
aonde traz sua corrente pela parte do
sudoeste pelo sítio do curral do capitão
Monteiro, na Costaneira, apelido que ele
lhe deu; segue até certa altura da cam-
pina, seguindo para leste para a parte da
marinha. Neste lugar finda o dito enca-
namento. Suas águas se espraiam pela
dita campina, sempre a leste, não muito
longe da marinha; deste lugar fazem sua
quebra a procurar o nordeste, isto até a
barra do dito Iguaçu, ao norte do cabo de
São Tomé(10).
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