Prato Sujo - Como a indústria manipula os alimentos para viciar você! ( PDFDrive )

(Ruy Abreu) #1

foi montada em 1895, em um pedaço de terra que décadas antes tinha sido doada
por Dom Pedro II para o Barão de Cintra. O barão dividiu as terras entre os dois
filhos: Rita e José Joaquim da Silveira Cintra, médico que estudava na França e
trouxe de lá, embarcados em navios, muitos dos materiais usados na construção
da sede da fazenda. Pouco tempo depois, José Joaquim vendeu sua parte para o
cunhado.
Por ali se produzia café, o grande motor da economia da região na época,
ensacado e embarcado nos trens que seguiam pelas ferrovias Mogiana e pela São
Paulo Railway para chegar ao porto de Santos e ser exportado. Na segunda
metade do século 19, o Brasil já era o maior exportador de café do mundo. São
Paulo se destacava no cultivo e os donos das fazendas, que acumularam fortunas,
eram chamados de barões do café – a elite dominante no País. Para sustentar a
produção crescente, o governo incentivava a vinda de imigrantes, principalmente
de italianos, que trabalhavam nas plantações e na construção das estradas de
ferro.
Mas aí veio a crise de 1929. Os países ricos empobreceram da noite para o dia
e a demanda despencou, enquanto os estoques aumentavam. O governo
comprava o excedente e queimava, porque não podia despejar mais café no
mercado e deixar os preços baixarem mais ainda. Centenas de empresas do ramo
decretaram falência.
A saída para os produtores foi investir em outros cultivos, como o do algodão.
Na fazenda São José, a escolha foi plantar arroz, feijão, cana-de-açúcar e milho.
Na década de 1980, uma mudança aconteceu naquelas terras. “O cultivo de
massa é um sistema sustentado por produtores que ganham pouco e enriquecem
os grandes empresários urbanos”, diz o engenheiro agrônomo Roberto Machado,
um dos irmãos que hoje comandam a propriedade herdada do bisavô. “Só que
agricultura não é uma linha de produção”, compara ele, que é diretor da
Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região. Quando se pratica a
monocultura, não é só o solo que vai ficando infértil com o tempo e precisando
de cada vez mais investimento em adubos e agrotóxicos para controlar as pragas
e doenças que acometem as plantações. Todo o ecossistema é comprometido,
com a poluição das águas e a perda de mata nativa, que dá lugar a pastos ou à
produção vegetal.


Sem espaço nem condições para plantar e criar a própria comida, os
agricultores precisam, além de gastar com infraestrutura e produtos químicos,
comprar tudo o que colocam no prato. “Achávamos um absurdo morar na

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