Prato Sujo - Como a indústria manipula os alimentos para viciar você! ( PDFDrive )

(Ruy Abreu) #1

cozidos são mais calóricos – e por isso que ninguém saliva diante de uma batata
crua ou de um pé de trigo, mas tem uma reação bem diferente quando vê uma
porção de batata sauté, um pão quentinho ou uma lasanha.
Com a carne, o alimento básico dos nossos ancestrais, não é diferente. Carne
crua até é atraente (os carpaccios e os sashimis estão de prova), mas o cozimento
dá uma bela força: o fogo de certa forma quebra as proteínas da carne, tornando-
a mais amigável ao sistema digestivo. E fazendo com que um bife seja mais
calórico que um naco de carne crua.
Obter mais reservas calóricas em menos tempo permitiu aos nossos avós
hominídeos se dedicarem a outras funções, como a criação de ferramentas mais
eficientes para colher e caçar. Quando homens e mulheres da savana africana (o
habitat natural dos nossos antepassados) se reuniam para um churrasco, não
faziam ideia que hoje estaríamos aqui comentando a vida deles. Mas eles foram
importantes, porque o cozimento pode ter contribuído para o desenvolvimento
do nosso cérebro.


É o que defende o antropólogo americano Richard Wrangham, professor de
Harvard. Ele acompanhou durante um ano a rotina de chimpanzés na Tanzânia
para estudar seus hábitos alimentares, comendo tudo o que eles comiam. A maior
parte da dieta era de folhas e frutas fibrosas, amargas e pouco calóricas, muitas
vezes protegidas por cascas duras que tinham de ser removidas – dá-lhe gasto
energético para retirar a polpa.
Os chimpanzés passavam mais de seis horas mastigando para sobreviver, com
intervalos que duravam, em média, 18 minutos. Era o tempo de dar uma voltinha
e, sem muito esforço, ver se conseguiam caçar alguma presa que estivesse por ali
dando sopa. Um homem adulto leva de um quinto a um décimo do tempo para
dar conta de suas necessidades calóricas.
Nossos amigos primatas têm cerca de 28 bilhões de neurônios – nós temos 86
bilhões. E como nossas células nervosas realizam atividades mais complexas que
as dos chimpanzés (ou pelo menos deveriam), elas consomem de 20% a 25% da
energia disponível. Em outros animais, o cérebro fica com 8% do que é comido.
Ou seja: de cada 2 mil calorias que consumimos, 500 vão só para a massa
cinzenta e o sistema nervoso. Seriam necessárias mais de nove horas por dia
mastigando o que a floresta tem a oferecer para obter tudo de que precisamos.
Conclusão: só temos um cérebro enorme e com mais neurônios por centímetro
quadrado porque aprendemos a tirar mais calorias da comida. Somos a única
espécie que cozinha. Logo, nos tornamos a única capaz de alimentar um cérebro

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