que o seu aparelho de ar condicionado não aliviava em nada. Sabrina estava cansada, com
calor e sentia-se suja depois de ter ficado várias horas a empacotar coisas.
— Sinto-me como se fosse a guardiã de metade do mundo. Nem sequer sei como parar. O
meu pai mal sabe atar os atacadores dos sapatos e a cada dia que passa faz cada vez
menos coisas. Recusa-se a regressar ao trabalho. A Candy parece que acabou de sair de
Auschwitz, e a Annie ainda vai acabar por se matar, quando cortar os pulsos enquanto
tenta cortar uma fatia de pão, e não deixa ninguém ajudá-la. Além disso, ninguém está a
mexer uma palha para realizar esta mudança a não ser eu.
Chris pôde perceber que Sabrina estava à beira das lágrimas e completamente arrasada.
— Tudo vai melhorar assim que Annie for para a escola — disse Chris, tentando
encorajá-la, mas registara bem na sua mente tudo o que Sabrina dissera.
Era bastante aborrecido e frustrante estar perto da família dela neste momento e isso
também o preocupava, em especial por causa de Sabrina. Era ela que carregava todo
aquele peso nos ombros e era demasiado para ela, ou para qualquer outra pessoa. Chris
sentia-se impotente a ver toda aquela situação e fazia tudo o que podia para ajudá-la.
— Talvez. Se ela se empenhar bastante e se mostrar disposta a aprender — respondeu
Sabrina com um suspiro. — Annie quer fazer tudo sozinha e há algumas coisas que ela
simplesmente não pode e não consegue fazer. E quando se apercebe disso, fica
transtornada, endoidece e desata a atirar coisas pelo ar, em especial na minha direcção.
Acho que estamos todos precisados de um bom psiquiatra.
— Talvez isso não seja uma má ideia. Que pretendes fazer com Candy?
As conversas sempre giravam em torno do que Sabrina estava a fazer, como se todos eles
fossem seus filhos e as responsabilidades recaíssem sempre sobre os ombros dela. Agora,
Sabrina sentia um respeito renovado pela mãe, por ter criado quatro filhas e por ter
cuidado do marido como se ele fosse o seu quinto filho. Sabrina perguntava-se como a
mãe teria conseguido. Contudo, não se dedicara a fazer mais nada enquanto as filhas
eram pequenas. Sabrina estava a trabalhar no seu escritório de advocacia, tentava
preparar a mudança para uma casa nova, corria de lá para cá entre Connecticut e Nova
Iorque, e esforçava-se por manter toda a gente animada e optimista, menos a si própria.
— Não vou fazer nada com a Candy. Ela costumava consultar uma pessoa por causa do
seu distúrbio alimentar quando era mais novinha. E andou melhor durante uns tempos,
não uma maravilha, mas melhor. Agora, a situação voltou a ficar completamente fora de
controlo. Aposto contigo qualquer coisa em como ela já perdeu para aí dois quilos, talvez
mesmo mais de quatro, desde que a mãe morreu. No entanto, ela é uma mulher adulta.
Tem vinte e um anos. Não posso obrigá-la a consultar um médico, se ela não quiser. E
sempre que falo no assunto, ela fica passada. O perigo é ela acabar por ficar estéril, por
perder os dentes ou o cabelo, ou ainda pior, ficar com problemas cardíacos ou morrer. A
anorexia não é brincadeira nenhuma. Mas Candy não me dá ouvidos. Diz que não quer ter
filhos, que assim como assim já faz extensões para o cabelo ficar mais bonito e até ao
momento a saúde dela não parece ter sido afectada. Mas um dia destes, Candy vai ter de
pagar o preço e ainda vai parar ao hospital com soro no braço, ou algo pior. A mãe
costumava lidar com isto melhor do que eu, mas também tinha mais traquejo. Ninguém
me escuta, só querem que lhes resolva os problemas e que não me meta na vida deles.
Não sei como me enredei nisto, mas na realidade é uma chatice de vida.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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