Danielle Steel - As Irmãs PT

(Carla ScalaEjcveS) #1

— O que quer o senhor dizer? Eu estou cega?
Verificou-se uma pausa mínima antes do médico responder, ao mesmo tempo que as
irmãs ficaram ali de pé, paradas, a olhar como se os seus corações se despedaçassem no
lugar do de Annie.
— Sim, Annie, é verdade — respondeu o médico em tom calmo e segurou-lhe na mão.
Annie repeliu-o, retirando a mão e começou a chorar.
— Está a falar a sério? Eu estou cega? Não posso ver nada? Eu sou uma artista! Eu preciso
de ver! Como poderei pintar se não puder ver?
Como poderia ela atravessar uma rua, ver um amigo, preparar uma refeição, ou até
mesmo encontrar o tubo da pasta de dentes? Ou desviar-se do trânsito? As irmãs
mostravam-se muitíssimo mais preocupadas com estes assuntos perfeitamente básicos do
que com a sua arte.
— Eu tenho que ver!! — repetiu Annie. — O senhor não pode fazer nada?
Annie soluçava como uma criança e Sabrina e Tammy aproximaram-se dela para lhe
tocarem, para que a irmã soubesse que elas ainda estavam ali.
— Tentámos fazer o possível — respondeu o cirurgião com tristeza. — A sua cirurgia
demorou cinco horas, só para tentar curar os seus olhos. As lesões eram demasiado
graves. Os nervos ópticos foram destruídos. Na verdade, é um milagre que esteja viva. Por
vezes, os milagres exigem o pagamento de um preço muito alto. Penso que este é um
desses casos. Lamento muito. Há muitas coisas que poderá fazer para desfrutar de uma
vida boa. Empregos, viagens, poderá até mesmo levar uma vida totalmente independente.
As pessoas invisuais fazem coisas notáveis neste mundo. Pessoas famosas, pessoas
importantes, pessoas comuns como eu e você. Só terá de ter uma abordagem diferente da
vida daquela que tinha antes.
O médico sabia que as suas palavras estavam a cair em saco roto. Ainda era demasiado
cedo, mas tinha de dizer alguma coisa para lhe dar esperança, para que Annie pudesse
recordar um dia mais tarde. Por agora, ela tinha de assimilar o choque de estar cega.
— Não quero ser "uma pessoa invisual"! — gritou Annie para o médico. — Quero os meus
olhos de volta. E que tal um transplante? Não posso ficar com os olhos de outra pessoa?
— perguntou Annie desesperada e pronta para vender a sua alma para que lhe
restituíssem a visão.
— As lesões foram muito extensas — afirmou o médico com honestidade.
O médico não queria dar-lhe falsas esperanças. Annie poderia ver sombras e luzes um dia,
mas nunca mais voltaria a ver. Estava cega. A pedido do seu pai, um outro oftalmologista
examinou os relatórios médicos e os exames de Annie nessa semana e chegou às mesmas
conclusões.
— Oh meu Deus — exclamou Annie, ao deixar cair a cabeça na almofada, soluçando
descontroladamente.
As irmãs aproximaram-se então da cabeceira da cama, uma de cada lado, e o médico
deu-lhe uma palmadinha na mão e saiu do quarto. Naquele momento não havia mais
nada que ele pudesse fazer por ela. Annie precisava das irmãs. Ele era o vilão que acabara
de destruir todas as esperanças da vida que ela conhecera até então. Mais tarde, voltaria
ao quarto e ajudaria a traçar um plano de tratamento para ela e faria algumas sugestões
sobre a instrução e o treino de que Annie iria precisar. Mas ainda era muito cedo para

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