Um lugar bem longe daqui

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Horário do óbito: entre meia-noite e duas da manhã, entre os dias 29 e 30
de outubro de 1969. Bem como pensamos. — Após um minuto lendo, ele
continuou: — O que temos são dados negativos.
— Tem razão. Não tem nada aqui, não, xerife.
— A não ser pelos dois meninos subindo até a terceira curva da escada, não
tem nenhuma impressão digital nova no guarda-corpo, nas grades, nada. Nem do
Chase nem de mais ninguém.
Uma barba por fazer vespertina escurecia a tez normalmente avermelhada do
xerife.
— Quer dizer que alguém limpou. Limpou tudo. Por que as impressões dele
não estão pelo menos no guarda-corpo ou nas grades?
— Exato. Primeiro não tínhamos pegadas... e agora não temos digitais. Não há
provas de que ele tenha caminhado pela lama até a escada, subido os degraus ou
aberto as duas grades... a que fica em cima da escada e a outra de onde ele caiu.
Ele ou qualquer outra pessoa, aliás. Mas dados negativos continuam sendo dados.
Alguém fez uma faxina muito bem-feita, ou então matou o cara em outro lugar e
levou o corpo até a torre.
— Mas se o corpo tivesse sido levado até a torre a gente teria visto marcas de
pneu.
— Certo, precisamos voltar lá e procurar marcas de pneu que não sejam nossas
ou da ambulância. A gente pode ter deixado passar alguma coisa.
Após mais um minuto de leitura, Ed falou:
— Enfim, agora estou confiante de que não foi um acidente.
— Concordo — disse Joe. — E não é qualquer um que consegue apagar os
rastros tão bem assim.
— Estou com fome. Vamos passar no restaurante depois daqui.
— Bom, a gente tem que se preparar para uma emboscada. A cidade inteira
está em polvorosa. O assassinato de Chase Andrews é a coisa mais importante que
aconteceu aqui, talvez em todos os tempos. As fofocas estão se espalhando feito
fogo de mata.
— Bom, fique de olho. Pode ser que a gente cate uma coisinha ou outra. A
maioria dos malfeitores não consegue ficar de boca fechada.
Uma vitrine inteira de janelas emolduradas por venezianas de segurança
ocupava a fachada do Barkley Cove Diner, que dava para o porto. Apenas a rua
estreita separava a construção, erguida em 1889, dos degraus molhados do píer da
cidade. Cestos de camarão descartados e redes de pesca emboladas margeavam a
parede abaixo das janelas, e conchas de moluscos coalhavam a calçada aqui e ali.
Por toda parte: gritos de aves marinhas, fezes de aves marinhas. Felizmente, o
aroma de linguiça e pães, folhas de nabo cozidas e frango frito superava o cheiro
forte dos barris de peixe que margeavam o cais.
Uma agitação leve escapou de dentro do pequeno restaurante quando o xerife
abriu a porta. Todos os cubículos de mesas e cadeiras — cadeiras de encosto alto e
estofadas de vermelho — estavam ocupados, assim como muitas das mesas avulsas.
Joe apontou para dois bancos vagos diante do balcão com as torneiras de
refrigerante, e os dois foram nessa direção.

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