Escola da Noite

(Carla ScalaEjcveS) #1

Griezman rebobinou a fita quarenta minutos e Wiley apareceu no momento
certo. Não havia dúvidas. O cabelo, a testa, as maçãs do rosto. Os olhos
encovados. Parecia ser exatamente de estatura média, mas descarnado, de uma
forma dura. Movia-se com energia e determinação. E confiança. Pavoneando-se,
quase. Fisicamente, tinha um aspeto atlético. Não de um modo flexível, como
um miúdo, mas em boa forma e maduro. Tinha trinta e cinco anos, como o
próprio Reacher. Bem crescidinho.
No vídeo, Wiley aproximou-se de uma câmara frigorífica, abriu a porta de
vidro e tirou uma garrafa escura, com gargalo fino.
— Dom Pérignon — disse Griezman. — Não é lá muito barato.
Wiley levou a garrafa para a caixa e tirou do bolso algumas notas
amarrotadas. Contou-as e o funcionário deu-lhe o troco em moedas. A seguir, o
funcionário meteu a garrafa num saco com o formato de uma garrafa e Wiley
foi-se embora com ela. Trinta e sete segundos, do início ao fim.
Viram outra vez a fita.
E aconteceram as mesmas coisas.
— Agora, mostre-me o bairro — atirou Reacher.
Voltaram para o carro e Griezman foi para sul, a tamborilar lentamente nas
pedras arredondadas, seguindo o que devia ter sido o percurso anterior de Wiley,
passando pelo ponto onde o polícia o tinha visto, por entre armazéns de tijolo
revelando as marcas do tempo, até acabarem por chegar a uma recentíssima
rotunda, na qual se podia ir para a esquerda, para a direita ou em frente, em
direção aos ramais da nova urbanização.
Griezman parou o carro. O motor ficou a roncar em ponto-morto, com o
limpa-para-brisas a deslocar-se de um lado para o outro mais ou menos a cada
minuto. Reacher olhou em frente. Conseguia ver umas cem mil janelas. A maior
parte estava às escuras, mas havia algumas iluminadas.
— Estes sítios são caros? — perguntou.
— Toda a cidade de Hamburgo é cara — respondeu Griezman.
— Estou aqui a pensar como é que o Wiley paga a renda.
— Não paga. Não há aqui registo de ninguém chamado Wiley. Já

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