Quarenta e quatro parafusos levaram-lhe praticamente vinte minutos, além de
ter ficado com os antebraços a arder. Mas foi então que o painel se soltou, com
Wiley a pousá-lo para preencher o espaço entre as duas zonas de carga. Uma
superfície plana, de uma carrinha à outra. Conforme planeado antecipadamente.
Tinha pensado em tudo.
Dentro do caixote, o ar estava parado e cheirava a ranço. Madeira velha, lona
velha, pó velho. O velho mundo. O conteúdo correspondia precisamente ao que
o tio Arnold lhe tinha contado, tantos anos antes. Dez objetos idênticos. Todos
iguais. Cada um pesava vinte e dois quilos e meio. E cada um estava embalado
num contentor para transporte. Aquilo a que o tio Arnold tinha chamado um H-
Wiley ainda se lembrava dos pormenores todos. Os contentores
encontravam-se repletos de alças. Fáceis de agarrar. Fáceis de levantar, deslizar,
arrastar e empurrar. Um de cada vez. Da carrinha velha para a carrinha nova. Até
aos fundos. Bem encostados uns aos outros, a partir do canto mais afastado.
Uma pausa, respirar fundo e ir buscar o seguinte.
Reacher deslocou-se para sul, na direção do lago Aussenalster. A cidade
encontrava-se tranquila. Uma reação fruto da experiência. A Europa estava
pejada de explosões. Fações, grupos e exércitos populares. Um assunto
importante durante um ou dois dias, até acontecer a coisa seguinte. Virou para
leste junto à água, dando a volta ao lago. Estava a quatro quilómetros do local
onde Wiley morava. E que não tinha nenhum sítio que desse para estacionar uma
carrinha de distribuição sem dar nas vistas. Mas fazia sentido mantê-la por perto.
Sendo que isso era relativo. Teria de se desenhar no mapa um círculo
cautelosamente grande. O que abarcaria uma parte com água. Mas a maior parte
seria em terra. De que Reacher só poderia percorrer um fragmento aleatório e
insignificante. Mas fazer alguma coisa era um sentimento melhor do que não
fazer nada. E andar era uma sensação melhor do que ficar sentado. Por isso,
andou.