® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

... não me importo, porque se uns sonham acordado, como dizem, há os que
despertam apenas para os pesadelos, não acha?, e me espreguiço devagar, estalando as
juntas do tornozelo, ... daqui a pouco o banzé da passarinhada, penso gostoso, quente,
me apagando de mim, recoberto, porém descoberto, ao mesmo tempo, sim, e imagino
que este aqui, agora, em velho, é que é o de noite, escuro e pesadelado, pra daqui a
pouco eu acordar menino, entende?,


não come carne quando a lua está lá no alto, benê!, ela avisou, ... o bucho espreme,
empanzinado, as visagens ruins, moleque!, ... o amadeo lobisomem virou bicho de pé preto desse
jeitinho, não sabe?,


mamãe fala o medonho, quando quer, ... arrepia,


não ouvi, errei, ... dei no que deu, deu no que dei,


transformo-se-me?,


uma vez um menino estuporou, vizinho de colônia, tanta carne moída mandou pro
bucho, com arroz, depois das nove da noite, esfomeado,


comeu na panela, escondido, a colher de pau quase não cabendo na bocarra, disseram,


era o de comer do dia seguinte, pra marmita do pai e do irmão mais velho, que iriam
longe, cedinho, desmatar um capão, lá pros lados do corguinho da sucuri, nos limites
da montanha, fazendola do seu honestaldo,


arreliento, comeu e limpou a boca no lençol, quando se deitou, ciência dos vestígios
alaranjados na barra cerzida, vez que gostavam, todos ali, do arroz bem soltinho,
tingido e perfumado de urucum, a prova cabal,


em uma hora, ou pouco mais, pôs pra fora a congestão, já contorcido no azedo dos
espasmos,


foi aquele ninguém nos acuda!, o pai puxando a língua do filho, engrolada, a mãe
pedindo chorosa, pra são vito, que não levasse embora o filhinho, ... e aquele cerco de

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